Os cientistas acreditam que os ataques a barcos terão sido iniciados que uma orca “traumatizada” num “momento crítico de agonia” — e que o comportamento está a espalhar-se entre a população através de “aprendizagem social”.
Os encontros agressivos com orcas ao largo da costa ibérica estão a aumentar, sendo já três os casos recentes de barcos afundados por estes cetáceos, popularmente chamados “baleias assassinas”.
O terceiro destes ataques, que visou um iate, na noite de 4 de maio, no Estreito de Gibraltar, envolveu três orcas que atuaram de forma coordenada, golpeando repetidamente o leme do barco até que este afundasse.
“Duas orcas pequenas observaram a técnica de uma terceira, maior, e depois tambem elas começaram a embater contra o iate”, explicou o capitão Werner Schaufelberger à revista alemã Yatch.
Os cientistas acreditam que uma orca traumatizada poderá ter iniciado este comportamento agressivo, que está agora a ser imitado pelo resto da população.
Agora, estes ataques estão a tornar-se cada vez mais frequentes, concluiu um estudo publicado em 2022 na revista Marine Mammal Science.
“Estes ataques são principalmente direcionados a barcos à vela”, diz o biólogo Alfredo López Fernandez, investigador da Universidade de Aveiro e co-autor do estudo. “As orcas abordam pela popa, golpeiam o leme das embarcações e depois de conseguir imobilizar o barco, perdem o interesse e afastam-se“.
Mais de 500 destes eventos de interação foram registados desde 2020, e a maior parte dos encontros tem sido inofensiva.
O comportamento parece espalhar-se tanto verticalmente, de progenitores para descendentes, como horizontalmente, entre pares. Isto implica um grau de aprendizagem social entre orcas, que são conhecidas pela sua capacidade de observar e replicar comportamentos.
Segundo o Live Science, terá sido uma orca fêmea, referida como White Gladis, a sofrer uma experiência traumática, possivelmente uma colisão ou aprisionamento devido à pesca ilegal.
Este evento poderá ter desencadeado uma mudança comportamental que tem sido imitada por outras orcas — que começaram agora a perceber este comportamento como vantajoso, apesar dos riscos associados à interação com barcos em movimento.
Este comportamento pode no entanto ser temporário, uma espécie de “moda” resultante da curiosidade e brincadeira da espécie, Orcinus orca.
Ainda assim, os investigadores manifestam-se preocupados, uma vez que, se situação se intensificar, pode representar uma ameaça significativa tanto para a segurança dos marinheiros como para a conservação desta subpopulação de orcas, listada como criticamente ameaçada na Lista Vermelha da IUCN.
O último censo, em 2011, registou apenas 39 orcas ibéricas.