Os três cenários futuros de Costa (e um “apoio disfarçado” inesperado de Marcelo)

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Tiago Petinga / Lusa

O Presidente da República parece estar a acostumar-se com uma saída antecipada de António Costa do Governo e tem suavizado o discurso.

Depois de ter sido um tema muito discutido mal se soube que o PS tinha conseguido maioria absoluta nas eleições de Janeiro de 2022, a possibilidade de António Costa sair a meio do mandato e assumir a Presidência do Conselho Europeu em 2024 está agora novamente nas notícias devido ao grande apoio que o primeiro-ministro tem em Bruxelas, onde é visto como um dos principais rostos da esquerda europeia.

Costa já negou repetidamente que esteja a planear abandonar o Governo em 2024, tendo ainda no último fim de semana voltado a frisar que vai cumprir o mandato até ao fim.

“Eu sou o garante da estabilidade. Já expliquei a todos que não aceitarei uma missão que ponha em causa a estabilidade em Portugal. Alguma vez eu poria em causa a estabilidade que tão dificilmente conquistei?”, garantiu o primeiro-ministro ao Público.

Marcelo também já tinha aludido à mesma questão logo na tomada de posse do Governo maioritário, onde ficou subentendida uma ameaça de que poderia convocar eleições antecipadas caso Costa saísse.

“Agora que ganhou por quatro anos e meio, Vossa Excelência sabe que não será politicamente fácil que a cara que venceu de forma incontestável e notável possa ser substituída por outra a meio do caminho. Os portugueses deram maioria absoluta a um partido, mas também a um homem”, disse em Março de 2022.

Mas segundo um dirigente socialista ouvido pelo Diário de Notícias, a decisão ainda não está fechada e há vários factores que serão tidos em conta pelo primeiro-ministro, como os calendários internos do PS, o apoio que tem na Europa e até o apoio do Presidente da República.

De acordo com este dirigente, há um “aproximar” de Marcelo à ideia de que Costa pode mesmo fazer as malas e rumar a Bruxelas. O chefe de Estado já deixou algumas pistas a 10 de Maio, quando reconheceu que o primeiro-ministro “tem muito peso” nas instituições europeias.

Na última sexta-feira, o Presidente terá mesmo dado um “apoio disfarçado” à saída de Costa, segundo outro dirigente do PS, quando disse que “aquilo que cada qual, na cena portuguesa e europeia, quer seguir é uma escolha própria”, frisando que a sua função “não é criar problemas nem a Portugal nem à Europa”.

“A maioria absoluta tem na sua mão e em exclusivo a chave do que vier a acontecer de bom e de mau da sua estabilidade”, atirou ontem o chefe de Estado, parecendo estar a voltar atrás no ultimato ao líder do Governo.

E na revelação do Público sobre as intenções de Costa, há uma mensagem “implícita” que deixa a porta aberta à sua saída, aponta o membro do PS, referindo-se ao parágrafo: “Se vier a deixar a liderança do PS antes das próximas legislativas, António Costa está apostado em deixar uma situação de estabilidade orçamental, económica e social que permita que o seu partido volte a ganhar eleições, mesmo que liderado por outra pessoa”.

Faz toda a diferença“, sublinha o dirigente socialista, que considera que Marcelo também “tem evoluído no seu entendimento” face à “especulação sem fundamento” que havia em 2021.

O calendário eleitoral em Portugal também deve estar nas contas, já que em 2024 temos eleições europeias e regionais nos Açores e logo em 2025 há autárquicas.

Para um dirigente socialista, há três cenários em cima da mesa, Costa sai em 2024 e deixa a “batata quente” com Marcelo sobre a dissolução da Assembleia que levaria o país três vezes às urnas num único ano; Costa “sai em 2026 a tempo de uma nova eleição para o Conselho Europeu” (o mandato é de dois anos e meio) ou volta a candidatar nas legislativas e só sai mais tarde para a Europa.

Adriana Peixoto, ZAP //

3 Comments

  1. «…O sistema político da Constituição de 1976 está gasto, transformou a Democracia, Esperança do 25 de Abril, num “ancien régime”.
    Transformou-A numa partidocracia subordinada a várias oligarquias, onde impera o poder do dinheiro e não o Primado da Pessoa Humana, nem a soberania do Povo.
    O Estado Social vem sendo descaradamente destruído e agravam-se as desigualdades sociais.
    Os menos esclarecidos julgam que os centros de decisão mais importantes ainda estão nos Partidos, e não, como agora, nas sociedades secretas cujos interesses financeiros, protegidos por uma desregulação selvagem, dominam o Estado.
    Portugal, por culpa da passividade e da incompetência, foi transformado num protectorado de uma Europa sem coragem de se autoconstruir, afundada no Relativismo e rejeitando Princípios, Valores e Ideologias.
    Está assim comprometido o Interesse Nacional e o Bem Comum dos Portugueses.
    Também a posse das máquinas informativas pelos poderes aqui denunciados, ajuda a convencer os Portugueses de que não há outro caminho de Regeneração, de Democracia e de Desenvolvimento Integral da Pátria, a não ser o deste percurso de “apagada e vil tristeza” por onde nos forçam os “velhos do Restelo” do século XXI português.
    Os socialmente mais débeis são os mais covardemente atingidos e sofredores, porque assim o escolheram as oligarquias e as sociedades secretas.
    A crise tinha de ser enfrentada, mas não desta maneira de genocídio social…» – Alberto João Jardim in «A Tomada da Bastilha»

  2. Qualquer gajo que cite Alberto João Jardim para qualquer coisa positiva na democracia portuguesa só pode andar a queimar mal.

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