Trauma do genocídio do Ruanda foi passado de mães para filhos através do ADN

Fanny Schertzer / Wikimedia

Nyamata Memorial Site

Os genes dos filhos de mulheres Tutsi que estavam grávidas e viviam no Ruanda durante o genocídio sofreram mudanças químicas que os tornam mais susceptíveis ao desenvolvimento de doenças mentais.

As marcas psicológicas do genocídio do Ruanda são tão profundas que até já passam para o ADN das gerações futuras, mesmo que estas não tenham vivido a tragédia, aponta o IFLScience.

De acordo com um novo estudo publicado na Epigenomics, o trauma deixado nos genes dos sobreviventes passou para os seus descendentes. Os cientistas da Universidade do Sul da Flórida estudaram os genes das mulheres Tutsi que estavam grávidas e a viver no Ruanda durante o genocídio e dos seus filhos.

A equipa depois decidiu comparar estas amostras de ADN com as de outras mulheres Tutsi e de filhos que estavam a viver noutras partes do mundo durante o genocídio.

Apesar de o ADN ser um código quase fixo, a expressão de certos genes pode ser alterada devido a mudanças epigenéticas, que são influenciadas pelo estilo de vida, as experiências e o ambiente.

No caso das mulheres grávidas que estavam no Ruanda, os investigadores identificaram mudanças químicas ao ADN que foram anteriormente associadas a um maior risco de doenças mentais, como o stress pós-traumático e a depressão.

Estes sintomas foram também identificados nos filhos, o que indica que as mudanças foram passadas de mãe para filhos no útero.

O genocídio do Ruanda entre Abril e Julho de 1994 levou à morte de cerca de um milhão de pessoas, durante a guerra civil. A violência sexual também foi muito prevalente, com estimativas a apontarem para que entre 150 mil e 250 mil mulheres tenham sido violadas.

A maioria das vítimas pertenciam à minoria étnica Tutsi, um grupo que historicamente dominou o país, e os perpetradores eram maioritariamente Hutus, que assumiram o poder durante a revolução que durou entre 1959 e 1962.

Em 1990, a guerra civil começou quando um grupo rebelde Tutsi tentou recapturar o poder. Foi assinado um acordo de paz em 1993, mas a instabilidade rapidamente voltou com o início do genocídio em Abril de 1994, após o abate do avião que levava o presidente Hutu.

“As pessoas do Ruanda que foram estudadas e a comunidade no geral quer saber o que aconteceu porque há muito stress pós-traumático e outros problemas de saúde mental e as pessoas querem respostas sobre a causa destes sentimentos e problemas”, revela o autor Derek Wildman.

Este é o primeiro estudo do efeito do genocídio do Ruanda nos genes, mas já houve outras investigações debruçadas sobre outros acontecimentos traumáticos. Em 2018, uma pesquisa sobre as vítimas de uma fome que desolou os Países Baixos durante a ocupação nazi chegou a conclusões semelhantes.

ZAP //

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