O serviço de oncologia do Centro Hospitalar Tondela – Viseu (CHTV) está em rutura e a cirurgia oncológica naquela unidade também está em risco, garantiram esta terça-feira três estruturas representativos dos médicos.
Em comunicado conjunto, o Sindicato dos Médicos da Zona Centro, o Sindicato Independente dos Médicos e a secção regional do Centro da Ordem dos Médicos referem que a situação atingiu “o ponto de rutura e que os colegas oncologistas assumem a incapacidade de garantir a consulta e tratamentos de quimioterapia para novos doentes”.
Esta situação, que já era “previsível desde há vários meses, levou a que, nas últimas semanas, os doentes com necessidade de iniciar quimioterapia estejam em suspenso à espera de uma solução”, contam, explicando que a quimioterapia “tem uma janela limite de eficácia”. Segundo as estruturas representativas dos médicos, “a consulta de decisão multidisciplinar e uma terapêutica integrada dentro da mesma instituição são pressupostos de qualidade” na abordagem do doente oncológico.
“Os cirurgiões deste centro hospitalar assumiram já, perante a direção clínica, a sua indisponibilidade para levar a cabo qualquer intervenção cirúrgica do foro oncológico que não cumpra estes pressupostos”, acrescentam, enaltecendo as três estruturas “esta postura de responsabilidade”.
Citado pela TSF, Carlos Cortes, presidente da Secção Regional do Centro da Ordem dos Médicos, dá conta que serviço de oncologia da unidade hospitalar perdeu dois dos três clínicos e apenas “um único oncologista é absolutamente incapaz de dar resposta a todas as situações que merecem ser vistas por esta área e que merecem um tratamento”.
“Isto cria uma situação muito complicada, nomeadamente na parte da cirurgia porque a cirurgia acaba por não poder fazer o trabalho que pode fazer porque depois os doentes não têm a continuidade dos tratamentos da parte oncológica (quimioterapia)”, sustenta.
Os sindicatos e a Ordem dos Médicos sublinham que, para os doentes oncológicos, “muitos deles debilitados física e psicologicamente, uma solução que envolva múltiplas viagens para outra instituição é simplesmente incomportável”. Estando a falar-se em “centenas de doentes”, consideram que “é necessária uma solução aplicável localmente”.
“Os resultados são insuficientes”
“Não obstante o empenho na resolução desde problema por parte direção clínica, os resultados são insuficientes. É responsabilidade da tutela, o Ministério da Saúde, assumir a condução deste assunto, de extrema gravidade, fruto da política de desinvestimento no SNS (Serviço Nacional de Saúde)”, acrescentam.
Os sindicatos médicos e a Ordem dos Médicos lembram que, “em bom tempo”, denunciaram publicamente a situação do serviço de Oncologia do Centro Hospitalar Tondela Viseu. “Um serviço altamente deficitário em recursos humanos e limitado por instalações físicas exíguas, indignas para o propósito que cumprem”, lamentam.
Segundo as três estruturas, anualmente são operados neste centro hospitalar “cerca de 350 doentes com patologia oncológica do aparelho digestivo, 160 doentes com cancro da mama e ainda doentes oncológicos do foro ginecológico e urológico”.
Em comunicado, o conselho de administração do CHTV esclarece que “tem vindo a ponderar, e a executar, medidas com vista a ultrapassar a carência de profissionais da área da oncologia, minimizando eventuais transtornos para os doentes”.
Neste âmbito, “recentemente e de forma imediata, foi possível proceder à contratação de um especialista em regime de prestação de serviços e assegurar a continuidade da colaboração de uma médica oncologista até final do ano, antevendo-se, desde já, a possibilidade de contratação futura”.
O conselho de administração explica que “enquanto se encontra a decorrer o concurso de recrutamento de um especialista para Oncologia no CHTV, têm sido mantidos contactos com o IPO (Instituto Português de Oncologia) de Coimbra, com o objetivo de estabelecer uma parceria estratégia permanente ao nível dos recursos humanos altamente qualificados, e com oncologistas do Centro Hospitalar Trás-os-Montes e Alto Douro”.
Comprometendo-se a “ultrapassar as atuais dificuldades”, o conselho de administração enaltece o esforço que os médicos oncologistas têm feito “em prol do bem-estar dos doentes e da segurança e qualidade reconhecidas dos tratamentos ministrados”.
ZAP // Lusa