Se quisermos saber mais sobre se a vida poderá sobreviver num planeta para lá do nosso Sistema Solar, é importante saber a idade da sua estrela. As estrelas jovens libertam frequentemente radiação altamente energética sob a forma de erupções que podem atingir as superfícies dos seus planetas.
Se os planetas são recém-formados, as suas órbitas também podem ser instáveis. Por outro lado, os planetas que orbitam estrelas mais velhas sobreviveram a estes episódios flamejantes e juvenis, mas também foram expostos aos estragos da radiação estelar durante um maior período de tempo.
Os cientistas têm agora uma boa estimativa da idade de um dos sistemas planetários mais intrigantes descobertos até à data – TRAPPIST-1, um sistema com sete mundos do tamanho da Terra em órbita de uma anã ultrafria a cerca de 40 anos-luz de distância.
Com base nos resultados de um novo estudo, investigadores dizem que a estrela TRAPPIST-1 é muito antiga: tem entre 5,4 e 9,8 mil milhões de anos. Poderá ser até duas vezes mais velha que o nosso próprio Sistema Solar, que se formou há cerca de 4,5 mil milhões de anos.
As sete maravilhas de TRAPPIST-1 foram reveladas no início deste ano numa conferência de imprensa da NASA, usando uma combinação de resultados do TRAPPIST (Transiting Planets and Planetesimals Small Telescope) no Chile, do Telescópio Espacial Spitzer da NASA e de outros telescópios terrestres.
Três dos planetas de TRAPPIST-1 residem na “zona habitável” da estrela, a gama de distâncias orbitais onde um planeta rochoso com uma atmosfera poderá conseguir suportar a existência de água à sua superfície. Todos os sete planetas têm, provavelmente, bloqueio de marés, isto é, cada com um perpétuo lado diurno e noturno.
Aquando da sua descoberta, os cientistas pensavam que o sistema TRAPPIST-1 tinha que ter pelo menos 500 milhões de anos, uma vez que é o tempo necessário para que estrelas de baixa massa como TRAPPIST-1 (apenas 8% da massa do Sol) contraiam para o seu tamanho mínimo, apenas um pouco maiores que o planeta Júpiter.
No entanto, mesmo este limite mínimo de idade era incerto: em teoria, a estrela podia ser quase tão antiga quanto o próprio Universo.
“Os nossos resultados ajudam realmente a restringir a evolução do sistema TRAPPIST-1, porque o sistema tem que ter persistido durante milhares de milhões de anos. Isto significa que os planetas tiveram que evoluir juntos, caso contrário o sistema há muito que se teria desmoronado,” afirma Adam Burgasse, astrónomo da Universidade da Califórnia, em San Diego, EUA, autor principal do artigo.
Burgasser juntou esforços com Eric Mamajek, cientista do Programa de Exploração Exoplanetária da NASA no JPL da agência espacial em Pasadena, no mesmo estado norte-americano, com o objetivo de calcular a idade de TRAPPIST-1.
Os resultados do estudo vão ser publicados no Astrophysical Journal.
Não está claro o que essa idade mais antiga significa para a habitabilidade dos planetas. Por um lado, as estrelas mais velhas iluminam menos que as estrelas mais jovens, e Burgasser e Mamajek confirmaram que TRAPPIST-1 é relativamente silenciosa em comparação com outras anãs ultrafrias. Por outro, tendo em conta que os planetas estão tão próximos da estrela, podem ter absorvido milhares de milhões de anos de radiação altamente energética capaz de “ferver” atmosferas e grandes quantidades de água.
De facto, o equivalente a um oceano da Terra poderá ter evaporado de cada planeta em TRAPPIST-1 à exceção dos dois mais distantes: os planetas g e h. No nosso próprio Sistema Solar, Marte é um exemplo de um planeta que provavelmente já teve água líquida à sua superfície no passado e que perdeu a maior parte da sua água e da atmosfera para a radiação altamente energética do Sol ao longo de milhares de milhões de anos.
No entanto, uma grande idade não significa, necessariamente, que a atmosfera de um planeta foi totalmente destruída. Dado que os planetas de TRAPPIST-1 têm densidades inferiores à da Terra, é possível que grandes reservatórios de moléculas voláteis como a água possam produzir atmosferas espessas que protejam as superfícies planetárias das radiações prejudiciais.
Uma atmosfera espessa pode ajudar a redistribuir o calor para os lados noturnos destes planetas bloqueados pelo efeito de maré, aumentando a área habitável. Mas isto também pode criar um efeito de estufa, no qual a atmosfera se torna tão espessa que a superfície do planeta sobreaquece – como em Vénus.
“Caso haja vida nesses planetas, eu especularia que tem que ser uma vida robusta, porque tem que ser capaz de sobreviver a alguns cenários potencialmente terríveis durante milhares de milhões de anos,” comenta Burgasser.
Felizmente, as estrelas de baixa massa como TRAPPIST-1 têm temperaturas e brilhos que permanecem relativamente constantes ao longo de biliões de anos, pontuados por aumentos ocasionais de atividade estelar. Prevê-se que as vidas de estrelas minúsculas como TRAPPIST-1 sejam muito maiores do que a idade de 13,7 mil milhões de anos do Universo (o Sol, em comparação, tem uma vida útil estimada em 10 mil milhões de anos).
Algumas das pistas que Burgasser e Mamajek usaram para medir a idade de TRAPPIST-1 incluem a rapidez com que a estrela se move na sua órbita em torno da Via Láctea (estrelas mais rápidas tendem a ser mais velhas), a sua composição química atmosférica e quantas erupções TRAPPIST-1 teve durante períodos observacionais. Todas estas variáveis apontaram para uma idade substancialmente maior do que a do nosso Sol.
Observações futuras com o Telescópio Espacial Hubble da NASA e com o futuro Telescópio Espacial James Webb poderão revelar se estes planetas têm atmosferas e se são, ou não, como a da Terra.
ZAP // CCVAlg /