Agora a fazer tremer os defesas adversários em Itália, Beto teve uma vida e carreira atribuladas. Chegou a trabalhar no KFC e “por sorte” não deixou o futebol.
Foi um salto gigante, mas não maior do que a própria perna. Em pouco mais de três anos, Beto saltou da distrital de Lisboa para a Serie A.
Ainda em 2018, o avançado agora com 23 anos jogava no Olímpico de Montijo, onde se destacou com 21 golos marcos e cinco assistências numa temporada. A excecional época valeu-lhe uma transferência para o Portimonense, onde começou por representar os sub-23.
Na equipa secundária do emblema de Portimão, Beto voltou a fazer aquilo que sabe melhor: marcar golos. Em 22 partidas, o jovem luso-guineense marcou 13 tentos. As boas prestações levaram-no à equipa principal nessa mesma temporada, mas o desfecho no capítulo dos golos não foi o mesmo.
No ano passado, Beto finalmente agarrou as oportunidades na equipa de Paulo Sérgio. O avançado fez as redes balançar em 11 ocasiões, inclusive frente a FC Porto e Benfica — e um golo de alto gabarito frente ao Tondela.
O talento de Beto não passou despercebido além fronteiras. Em Espanha, o jornal AS escrevia que o jovem era “uma espécie de Haaland” na Liga portuguesa.
“Mede 1,94 metros e converteu-se no Haaland português”, escreveu o jornal espanhol, acrescentando que é “uma referência goleadora”, porque desde pequeno aprendeu a chutar à baliza com bolas de ténis.
SL Benfica, Sporting CP e FC Porto tentaram a contratação do goleador, que acabou, este ano, por assinar pela Udinese, de Itália.
O jogador adaptou-se com relativa facilidade à Serie A, levando já três golos em sete partidas. Tornou-se no terceiro português a marcar na Serie A com a Udinese, atrás de Bruno Fernandes e José Luis Vidigal.
No entanto, o percurso do avançado nem sempre foi fácil e o português, em declarações à Tribuna Expresso, acredita que a sua história pode “inspirar outros”.
O jovem esteve, entre os 13 e os 14 anos, na formação do Benfica, uma temporada que chegou para ver que “não estava ao nível” dos jovens da sua idade, que “jogavam demasiado bem”.
Seguiram-se passagens pelos União de Tires e pelo Oeiras. “Depois de sair do Benfica, tive um momento de quebra”, admitiu, explicando que a escola não corria bem, o que levou a sua mãe a tirá-lo repetidamente do futebol.
Aos 16 anos, “estava para desistir do futebol”. Só não o fez “por sorte”.
“Era verão e fui à praia com os meus amigos. Já estava a chegar quando encontrei o presidente do Tires. Durante uma hora e meia não toquei na areia e só ouvi um sermão do presidente por ter, no ano anterior, ido do Tires para o Oeiras sem dizer nada. Depois do sermão, o presidente convenceu-me a voltar ao clube para fazer captações. Eu já era juvenil A, mas, como castigo, fui meia época para os juvenis B. Foi sorte, porque naquela fase eu não estava virado para o futebol, não sabia se ia continuar a jogar”, explicou em entrevista à Tribuna Expresso.
Quando Beto chegou à equipa principal do União de Tires, em 2017/18, no seu primeiro ano de sénior, chegou mesmo a ter outro emprego para conseguir ganhar a vida.
“Trabalhei no KFC durante essa temporada, jogando no Tires e trabalhando lá. Não era nenhuma tortura, havia um bom ambiente e excelentes colegas, mas não estava a fazer o que mais gostava”, contou o futebolista.
Beto vive agora um sonho. Joga num relvado onde já pisaram grandes nomes como Bruno Fernandes, Alexis Sánchez, Samir Handanovic ou David Pizarro, e partilha balneário com futebolistas como Gerard Deulofeu ou Roberto Pereyra.