Um grupo de influentes figuras iranianas está secretamente a planear um futuro sem o Líder Supremo Ayatollah Ali Khamenei — numa altura em que os recentes ataques militares norte-americanos intensificam conversas sobre a liderança e direção do Irão.
Um grupo clandestino de figuras do Irão, composto por empresários, personalidades políticas e militares, e familiares de clérigos de alto escalão, começou a formular planos para governar o Irão sem o seu líder supremo, de 86 anos.
Os planos para um futuro sem o Ayatollah Ali Khamenei começaram a ser abordados mesmo antes dos ataques americanos de sábado às instalações iranianas, diz o escritor e historiador iraniano-canadiano Arash Azizi num artigo no The Atlantic.
Os “conspiradores” estão a considerar vários cenários possíveis, que envolvem tanto a morte natural de Khamenei como a sua remoção do poder através de pressão política, diz Azizi.
Sob a constituição iraniana, a Assembleia de Sábios, órgão composto por 88 clérigos do topo da hierarquia do país, precisaria de votar para destituir Khamenei.
Contudo, os conspiradores reconhecem que promover tal votação nas circunstâncias atuais poderá ser inviável. Em vez disso, visualizam um cenário onde figuras internas poderiam pressionar Khamenei a transferir o poder real para um substituto temporário.
A solução proposta pelo grupo de conspiradores para substituir Khamenei — que entretanto terá já indicado a sua própria lista de candidatos — envolve estabelecer um comité de liderança de funcionários de alto escalão que assumiriam o controlo do país e negociariam com os Estados Unidos o fim dos ataques israelitas.
O antigo presidente Hassan Rouhani, embora não diretamente envolvido nas discussões, está a ser considerado para um papel fundamental neste comité.
Segundo fontes bem posicionadas revelara a Azizi, alguns funcionários militares dentro do grupo mantiveram contacto regular com homólogos de um importante país do Golfo, procurando apoio para mudar a estrutura de liderança e trajetória do Irão.
Os conspiradores partilharam estes detalhes, diz Azizi, com o objetivo de avaliar a resposta regional e internacional aos seus planos.
“Teerão está agora cheio de tais conspirações“, diz um dos membros do grupo. “Eles também estão a falar com europeus sobre o futuro do Irão. Toda a gente sabe que os dias de Khamenei estão contados. Mesmo que permaneça no cargo, não terá poder real”.
O recente bombardeamento americano das instalações nucleares iranianas em Natanz, Fordo e Isfahan criou reações mistas entre os conspiradores.
Enquanto uma fonte sugere que os ataques aumentaram as suas hipóteses de marginalizar Khamenei, outra está menos otimista quanto a assegurar a paz com os EUA e Israel.
Os ataques criaram uma batalha de narrativas entre Washington e Teerão. O presidente Trump afirma ter “obliterado” o programa nuclear do Irão, enquanto funcionários iranianos minimizam os danos, afirmando que já tinham reposicionado materiais nucleares e que os ataques falharam em penetrar locais fortificados.
Os círculos iranianos próximos do regime dividiram-se em dois campos após os ataques. Alguns preferem que o Irão negoceie um acordo com Trump, mesmo que isso signifique abandonar Khamenei. Outros acreditam que o Irão deve retaliar, para evitar que a inação seja entendida como um convite a mais agressões.
O especialista em segurança iraniano Mostafa Najafi prevê que o Irão responderá militarmente, potencialmente alargando o conflito, e realça que, apesar dos ataques israelitas, o Irão mantém consideráveis capacidades de mísseis e drones e tem uma vasta experiência em guerra assimétrica.
As opções de resposta do Irão são contudo nesta altura bastante limitadas, diz Azizi. O Hezbollah mostrou pouco interesse em juntar-se à luta do Irão, enquanto a campanha eleitoral do Iraque torna as suas milícias pró-Teerão relutantes em arrastar o país para novos conflitos.
O Irão enfrenta agora uma escolha crítica: expandir a guerra e arriscar antagonizar os países do Golfo que albergam bases americanas, ou procurar um compromisso histórico com os EUA, abandonando décadas de hostilidade.
Enquanto a liderança de Khamenei enfrenta desafios sem precedentes, as elites iranianas questionam cada vez mais se o Ayatollah deve ser removido — para que seja possível seguir qualquer um dos caminhos que há pela frente.
Guerra no Médio Oriente
-
“Todos sabem” que Khamenei tem os dias contados (diz um grupo de conspiradores)