Titã, a lua e Saturno, é surpreendentemente semelhante à Terra. Tem lagos, rios e oceanos profundos (e possivelmente cavernas) que poderiam sustentar vida.
Em Titã, a chuva não é água, mas sim metano líquido. Duas investigações exploram de que forma este “ciclo de água” – muito similar ao da Terra – se manifesta na superfície da lua de Saturno. Para analisar este processo, duas equipas analisaram os dados da missão Cassini, que sobrevoou a enorme lua mais de 100 vezes, reunindo observações fulcrais sobre este estranho mundo incomum.
Algumas das observações mostraram aos cientistas algo que os apanhou de surpresa: o vislumbre de algo líquido na paisagem de Titã. “Titã é o único mundo sem ser a Terra onde vemos corpos líquidos na superfície“, resumiu Rosaly Lopes, cientista planetária do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA. “Alguns de nós gostamos de chamar Titã de ‘Terra do sistema solar exterior'”.
Shannon MacKenzie, principal autora de um dos novos estudos publicado na Nature, afirmou que Titã é “a lua mais interessante do Sistema Solar”. O estudo revelou três pequenas características em Titã que pareciam ser lagos cheios de líquido quando Cassini se cruzou com eles pela primeira vez. As observações sugerem que este líquido observado se evaporou ou se infiltrou na superfície planetária circundante.
Estes “lagos fantasmas” podem ser provas vivas de mudanças sazonais na lua de Saturno. Mas o fenómeno pode não ter uma explicação assim tão simples.
A Cassini foi construída para recolher dados com o seu instrumento de radar ou com as suas câmaras de luz visual e infravermelha – mas não ambas ao mesmo tempo. Por esse motivo, os cientistas tiveram que considerar a mudanças de instrumentos como uma variável potencial.
Ainda assim, MacKenzie continua a acreditar na teoria líquida de Titã. Esta lua de Saturno está entre os candidatos plausíveis dos cientistas para albergar vida. Se esta teoria se confirmar, será um dado que colocará Titã no pódio.
Mas se, em vez disso, estivermos a olhar para alguns materiais recém-identificados na superfície de Titã, “é também um dado interessante a ter em conta, porque os sedimentos nesta lua são realmente importantes para a química pré-biótica“, explicou MacKenzie.
A equipa de MacKenzie concentrou-se em apenas três lagos, mas a verdade é que existem muitos outros visíveis ao longo das observações da Cassini. No segundo estudo, publicado no dia 15 de abril, os cientistas usaram dados de radar para estudar vários lagos (e muito maiores do que os três anteriores) em Titã.
Durante a última passagem da Cassini, a sonda recebeu instruções para medir a altimetria sobre a região dos lados de modo a medir a altura das diferentes substâncias. Marco Mastrogiuseppe, um cientista planetário da Caltech, já havia usado dados semelhantes para medir as profundezas de alguns dos mares de Titã, corpos de líquidos muito maiores, e a equipe da Cassini esperava que fosse capaz de fazer o mesmo com os lagos.
A equipa de Mastrogiuseppe identifico lagos com mais de 100 metros de profundidade, e descobriu que o seu conteúdo não era água, mas sim metano líquido.
“Percebemos de imediato que a composição dos lagos é muito semelhante à da água do mar. Acreditamos que estes corpos são alimentados por chuvas locais sendo que, posteriormente, estas bacias drenam o líquido”, explicou o cientista, fazendo referência ao processo muito semelhante ao ciclo da água na Terra.
Isto sugere que Titã pode ter um outro segredo que entusiasma os cientistas: cavernas. No nosso planeta, muitas cavernas são formadas pela água que se dissolve ao redor de rochas como o calcário. Os cientistas acham possível encontrar este tipo de estruturas naturais na lua de Saturno.
“Titã é um mundo geologicamente similar à Terra, e estudar as interações entre os corpos líquidos e a geologia é algo que realmente não conseguimos fazer até agora”, concluiu o cientista.
LM, ZAP // Live Science