Os disparos ocorreram após a prisão preventiva do ministro das Finanças, Suleimane Seide, e do secretário de Estado do Tesouro, António Monteiro, por alegações de prevaricação e desrespeito às normas orçamentais num esquema de pagamentos a empresários.
Tiros de armas de guerra ligeiras e pesadas foram ouvidos hoje, em Bissau, capital da Guiné-Bissau, por volta da 01:20, e voltaram a ser ouvidos em Bissau desde as 07:00 desta manhã.
Os tiros ecoam por toda a cidade de Bissau e partem das imediações do quartel no bairro de Luanda e de outras instalações da Guarda Nacional, de acordo com os relatos que vão chegando à Lusa.
A zona dos bairros mais próximos dos disparos, como Santa Luzia, Luanda e Empantcha está sem movimentos de viaturas e pessoas.
Fontes militares afirmam tratar-se de confrontos entre elementos da Guarda Nacional e forças do Batalhão do Palácio presidencial.
Os confrontos ocorrem numa altura em que o Chefe do Estado Maior General das Forças Armadas, Biague Na Ntan, se encontra fora do país.
As mesmas fontes indicaram à Lusa que o Estado-Maior das Forças Armadas instruiu a Polícia Militar para parar os combates, que se iniciaram por volta da uma da manhã.
Os tiros acontecem na sequência de tensões vividas durante toda a noite de quinta-feira, depois de o Ministério Público ter decretado a prisão preventiva do ministro das Finanças, Sulemaine Seide, e do secretário de Estado do tesouro, António Monteiro.
Os dois governantes foram detidos esta quinta-feira no âmbito de um processo relacionado com pagamentos a empresários, disse à Lusa fonte judicial.
Os dois membros do Governo foram levados para a sede da Polícia Judiciária, de onde terão sido retirados das celas por elementos da Guarda Nacional, segundo indicaram à Lusa várias testemunhas.
Os dois governantes estão a ser investigados no âmbito de um pagamento de seis mil milhões de francos CFA, cerca de 9,14 milhões de euros, a 11 empresários, através de um crédito a um banco comercial de Bissau.
A oposição, que denunciou o caso no parlamento, defende tratar-se de crime prevaricação e desrespeito a normas orçamentais, imputados ao Ministro da Economia e Finanças, ouvido na passada segunda-feira no parlamento.
Naquela instância, Suleimane Seidi confirmou a solicitação do crédito, defendeu que todo o processo obedeceu à legalidade e ainda reafirmou ser um procedimento normal entre os Governos da Guiné-Bissau.
A oposição, na voz do Movimento para a Alternância Democrática (Madem G15) considera o processo fraudulento por envolver “apenas empresários ligados ao Governo” da coligação Plataforma Aliança Inclusiva (PAI – Terra Ranka).
Logo após a denúncia do caso, o Ministério Público efetuou buscas e apreendeu documentos no Ministério da Economia e Finanças e no banco que concedeu o crédito para o pagamento aos empresários.
Vários dirigentes do Ministério da Economia e Finanças já foram ouvidos desde a semana passada e hoje os dois principais responsáveis da instituição foram detidos.
Suleimane Seidi e António Monteiro são dirigentes do PAIGC – Partido Africano da Independência da Guiné e Cabo Verde, que lidera a coligação PAI -Terra Ranka, no Governo, juntamente com o Partido da Renovação Social (PRS), Partido dos Trabalhadores da Guiné (PTG) e mais cinco pequenas formações políticas.
O Madem G15 e a Assembleia do Povo Unido – Partido Democrático da Guiné-Bissau (APU – PDGB) são os únicos da oposição no parlamento.
A detenção do titular da pasta das Finanças ocorreu no dia em que o Governo aprovou, em Conselho de Ministros, o Orçamento Geral do Estado para 2024, agendado para discussão e votação na sessão plenária da Assembleia Nacional Popular, que decorre até 27 de dezembro.
ZAP // Lusa