A falha de San Andreas, que se situa ao longo da costa oeste da América do Norte e atravessa centros populacionais densos como o de Los Angeles, na Califórnia, é uma das falhas mais estudadas devido ao seu elevado risco de perigo.
Tendo por base o intervalo de recorrência de, aproximadamente, 150 anos em que ocorrem terramotos de magnitude 7,5, e no facto de que já se passaram mais de 300 anos desde que isso aconteceu, a falha de San Andreas é há muito chamada de “atrasada”.
Durante décadas, os geólogos questionavam-se como é que já tinha passado tanto tempo desde a ocorrência do último terramoto no local, que daria origem a uma maior rutura. Agora, alguns geofísicos acreditam que a “seca do terramoto” – como os especialistas lhe chamam – pode ser parcialmente explicada por lagos, ou neste caso pela falta deles.
Na Reunião Anual da Geological Society of America, Ryley Hill apresentou um novo trabalho através do uso de modelagem geofísica para quantificar como a presença de um grande lago junto de uma falha, pode ter afetado o tempo de rutura no sul de San Andreas no passado.
Há centenas de anos, um lago gigante – o Lago Cahuilla – que se situava no sul da Califórnia e norte do México, cobria falhas dos vales Mexicali, Imperial e Coachella, fazendo assim a sua travessia muito próximo da falha de San Andreas.
Ao longo dos anos este lago tem secado lentamente e isso faz levantar a questão: se o lago que ficava junto ao San Andreas secou, e o peso da sua água foi removido, isso pode explicar porque razão a falha de San Andreas está numa “seca de terramotos”?
Hill está a explorar as consequências da presença de um lago no tempo de rutura de uma falha, processo conhecido como carregamento do lago – trata-se do efeito cumulativo de duas forças que são o peso da água do lago e a maneira como essa água se difunde para o solo.
O peso da água do lago aumenta a pressão colocada nas rochas que estão debaixo dele, enfraquecendo-as. Quanto mais fundo for o lago, maior será a pressão sobre as rochas e maior será a probabilidade da falha escorregar.
“Imaginemos duas mãos escorregadias a fazer pressão para dentro. Se tentarmos desliza-las lado a lado elas não vão escorregar facilmente. Mas se houver água entre elas, a pressão empurra-as para fora e elas escorregam com facilidade”, explica Hill, que garante que as forças juntas criam pressão na falha, atingindo assim um limite crítico, fazendo com que a falha se rompa.
Segundo o Phys, o modelo de Hill é complexo e incorpora diferentes níveis de pressão de água nos sedimentos e nas rochas localizadas debaixo do lago, permitindo que a pressão dos poros seja diretamente afetada pela tensão da água. Isso, por sua vez, afeta o comportamento geral da falha.
Enquanto o trabalho estava em andamento, Hill revelou que encontrou respostas importantes. Quando a água do lago está no seu máximo esta faz com que a pressão aumente e se torne capaz de empurrar o cronograma de modo a que a falha alcance o ponto crítico um pouco mais cedo do que o previsto.
De acordo com Hill, o efeito geral da seca do Lago Cahuilla torna mais difícil a rutura de uma falha. “À medida que a pressão dos poros diminuiu, tecnicamente, o alicerce fica mais forte”, diz o geólogo, explicando assim o que está a acontecer em San Andreas.