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Estranhos terramotos revelam vulcões ocultos debaixo do deserto do Utah

Duas estranhas sequências de terramotos, em setembro de 2018 e abril de 2019, chamaram a atenção dos cientistas para o deserto de Black Rock, no estado norte-americano do Utah.

As sequências de sismos, que incluíram os terramotos principais e os seus tremores secundários, foram muito diferentes do terramoto Magna, que sacudiu a Wasatch Front em 2020, e outros terramotos no Utah.

Os sismos de magnitude 4,0 e 4,1 no deserto de Black Rock foram captados pela Rede Sísmica Regional do Utah e pela implantação de equipamento sísmico temporário nas proximidades, que monitorizava um poço geotérmicodo Utah FORGE, um projeto geotérmico experimental financiado pelo Departamento de Energia dos Estados Unidos e controlado pela Universidade do Utah, a cerca de 30 quilómetros a sul do deserto.

Terramotos neste deserto são raros e capturar as gravações sísmicas fornece um vislumbre do sistema vulcânico do deserto de Black Rock que, embora não mostre nenhum sinal de erupção, ainda está ativo.

A rede temporária permitiu que os investigadores detetassem mais tremores secundários do que o normal. A rede regional, por exemplo, detetou 19 terramotos como parte da sequência de abril de 2019. Porém, a densa rede temporária detetou 35 terramotos.

As sequências mostraram algumas características que as diferenciam da sequência do Magna 2020 e de outras sequências de terramotos no Utah. Enquanto o terramoto Magna ocorreu a uma profundidade de cerca de 9,5 quilómetros abaixo da superfície, uma profundidade típica para terramotos no Utah, os sismos de Black Rock foram muito mais rasos – cerca de 2,4 quilómetros abaixo da superfície.

“Como estes terramotos eram muito rasos, conseguimos medir a deformação da superfície [devido aos terramotos] usando satélites, o que é muito incomum para terramotos tão pequenos”, explicou Maria Mesimeri, investigadora nas Estações Sismográficas da Universidade do Utah, em comunicado.

Mesimeri e os seus colegas descobriram ainda que os terramotos produziram energia sísmica de frequência muito mais baixa do que a normalmente observada.

Além disso, um dos principais tipos de ondas sísmicas, ondas transversais ou ondas S, não foi detetado nas sequências do Black Rock.

Todos estes sinais sugerem que as sequências Black Rock tinham uma origem muito diferente da sequência Magna, que foi gerada pelo movimento da falha Wasatch.

Segundo os geólogos, os terramotos de Black Rock podem ter sido gerados pela atividade contínua no campo vulcânico de Black Rock.

As montanhas Wasatch formam a margem oriental de uma região chamada província de Basin and Range, que se estende a oeste até Sierra Nevada. A província está a expandir-se por placas tectónicas e esse alongamento afina a crosta, permitindo que mais calor suba do interior da Terra. Na área de Black Rock, esse calor resultou na erupção de lava basáltica há cerca de nove mil a 12 mil anos.

“As nossas descobertas sugerem que o sistema ainda está ativo e que os terramotos foram provavelmente resultado de movimento relacionado com os fluidos na área geral”, afirmou Mesimeri, referindo-se ao potencial magma ou água aquecida. “Os terramotos podem ser o resultado da compressão do fluido através da rocha ou o resultado da deformação do movimento do fluido que stressou as falhas da superfície”.

Atividade num campo vulcânico, contudo, não significa erupção. Segundo a investigadora, não há evidências de que qualquer erupção seja iminente no Deserto de Black Rock.

No entanto, é uma área que os geocientistas podem querer monitorizar um pouco mais de perto. “Os resultados mostraram-nos que devemos dar mais atenção à área de Black Rock”, disse Mesimeri. “Precisamos de melhorar a monitorização sísmica e vulcânica nesta área para estarmos cientes das pequenas mudanças que podem ocorrer.”

Este estudo foi publicado em fevereiro na revista científica Geophysical Research Letters.

Maria Campos, ZAP //

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