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Teoria dos primatas pedrados. Podem os cogumelos mágicos ter sido a chave para a nossa evolução?

(dr) Envato Elements

A teoria já era conhecida desde os anos 90, mas um novo estudo veio trazê-la à baila novamente. O argumento é de que os cogumelos com efeitos psicadélicos podem ter ajudado a tornar os nossos antepassados mais sociáveis.

O salto evolutivo desde os primeiros hominídeos até aos humanos modernos foi tão grande que continua a fazer os cientistas coçar a cabeça com questões sobre como é que este processo de desenvolvimento cognitivo foi tão rápido.

Há uma teoria que aponta que um factor externo pode ter acelerado este processo. Mas não era um factor qualquer. Era sim nada mais nada menos do que cogumelos mágicos. Será que o segredo para a evolução da consciência dos nossos antepassados desde antes da Idade da Pedra foi andarem, literalmente, pedrados?

A ideia inicial já é antiga, tendo partido inicialmente do etnobotânico Terence McKenna no seu livro de 1992 “Alimento para os Deuses“. O conceito básico era que o consumo de fungos com efeitos psicadélicos pode ter sido a chave para o desenvolvimento da mente humana.

De acordo com o irmão mais novo do autor, Dennis McKenna, a ideia partiu de conversas entre os dois. Dennis é também um etnofarmacologista e fundados da Academia de Filosofia Natural McKenna.

“Durante algum tempo, tive a ideia de escrever um livro que se chamaria “Alucinogénios e Evolução”, mas nunca o fiz”, revela Dennis ao howstuffworks. “Enquanto que a abordagem do Terence é diferente daquilo que eu teria escrito, mas complementam-se. As ideias do Terence foram certamente fertilizadas por essas conversas”, afirma.

Nem Terence nem Dennis apelidaram esta hipótese como “teoria dos primatas pedrados” – e Dennis acredita que este nome não é fiel ao conceito e que o trivializa. Mesmo assim, foi o nome pelo qual ficou conhecida.

No geral, a hipótese sugere que devemos a emergência da língua e da auto-reflexão ao consumo antigo e sustentado de cogumelos de psilocibina. A cronologia exacta para o surgimento da consciência varia, mas Dennis aponta para que o processo tenha começado há cerca de 2 milhões de anos.

“Sabemos que o cérebro triplicou de tamanho há 2 milhões de anos, e provavelmente os ecossistemas que colocam hominídeos, gado e cogumelos juntos tem à volta dessa idade”, explica.

Novo estudo tenta provar teoria

Um novo estudo do investigador independente José Manuel Rodríguez Arce e de Michael Winkleman, da Universidade do Arizona, publicado em Setembro na Frontiers of Psychology veio tentar dar mais credibilidade a esta hipótese.

A investigação aponta que “a evolução hominídea ocorreu numa paisagem ambiental sempre em mudança, às vezes rapidamente, e envolveu o avanço no nicho socio-cognitivo”, cita o IFLScience.

Segundo os autores, a maior inteligência e capacidade de socialização dependem bastante da serotonina — um neurotransmissor criado a partir do aminoácido triptofano. Mas como os humanos não conseguem produzir triptofano, os cientistas argumentam que a a única forma que os nossos antepassados tinham para aumentar os níveis de serotonina era comendo cogumelos mágicos.

Para sustentar esta hipótese, os investigadores citam estudos recentes que apontam para o potencial dos psicadélicos de tratar distúrbios mentais, como a depressão, principalmente através da activação dos receptores de serotonina e melhorando a plasticidade neural.

O consumo destas substâncias dos primatas pode ter aberto à porta à criação de novos modos cognitivos ao mesmo tempo que facilitaram o crescimento dos nossos cérebros. Os autores explicam também que a ingestão de plantas psicadélicas pode ter encorajado as ligações sociais entre os hominídeos e consequentemente criado tendências mais sociais que promoveram a coesão dos grupos e ajudaram na sobrevivência.

Apesar deste novo estudo, continuam a não haver provas sólidas de que os nossos antepassados consumiam cogumelos mágicos, algo que os autores admitem, dizendo que este mistério vai “para sempre ser incerto“.

Quem sabe, pode ser que devamos a nossa inteligência a primatas que um dia se lembraram de apanhar uma moca — e não do tipo que se usa como ferramenta.

Adriana Peixoto, ZAP //

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