Afinal, teoria de 120 anos sobre “loucura precoce” pode não estar errada

Danie Franco / Unsplash

Afinal, uma teoria descartada há mais de 120 anos sobre a chamada “loucura precoce” pode não estar errada, sugere um novo estudo.

Investigadores compararam a esquizofrenia e a demência frontotemporal, duas condições que afetam os lobos frontal e temporal do cérebro. As descobertas trazem de novo à superfície uma teoria com mais de 120 anos sobre a chamada dementia praecox — em português, “demência prematura” ou “loucura precoce”.

O termo foi cunhado em 1899 por Emil Kraepelin, psiquiatra citado como o criador da psiquiatria e genética psiquiátrica modernas.

“Loucura precoce” é um diagnóstico psiquiátrico em desuso que originalmente designava um transtorno psicótico crónico e deteriorante caracterizado por uma rápida desintegração cognitiva, normalmente começando no final da adolescência ou início da idade adulta. Ao longo dos anos, o termo demência prematura foi gradualmente substituído por esquizofrenia, que permanece atualmente em uso.

Kraepelin propôs o conceito de doença frontotemporal, assumindo que as regiões do lobo frontal e temporal do cérebro são responsáveis pelo curso por vezes debilitante dos pacientes, explica o SciTechDaily.

“Mas essa ideia foi perdida, uma vez que nenhuma evidência patológica de processos neurodegenerativos observados na doença de Alzheimer foi encontrada nos cérebros desses pacientes”, disse Nikolaos Koutsouleris, coautor principal do novo estudo publicado na revista JAMA Psychiatry.

A demência frontotemporal, especialmente a variante comportamental, é difícil de reconhecer nos estágios iniciais, porque muitas vezes é confundida com esquizofrenia.

“Elas pareciam estar num espectro de sintomas semelhante, então queríamos procurar assinaturas ou padrões comuns no cérebro”, detalhou Koutsouleris.

A equipa de investigadores usou Inteligência Artificial para treinar classificadores neuroanatómicos de ambos os distúrbios. Os resultam mostraram que 41% dos pacientes com esquizofrenia preenchiam os critérios do classificador para a variante comportamental da demência frontotemporal.

“Eu só queria saber porque é que o meu paciente de 23 anos com sintomas iniciais de esquizofrenia, como alucinações, delírios e défices cognitivos, não melhorou nada, mesmo depois de dois anos, enquanto outro que começou tão mal quanto ele foi continuando os seus estudos e tinha encontrado uma namorada. Repetidamente, vi destes jovens que não recuperaram”, contou Koutsouleris.

Quando os pesquisadores também verificaram as correlações em pacientes de alto risco, como o jovem de 23 anos, encontraram confirmação no nível neuroanatómico do que Kraepelin foi o primeiro a descrever decisivamente: nenhuma melhoria na condição de alguns pacientes — bastante o oposto, aliás.

“Isto significa que o conceito de demência precoce já não pode ser completamente apagado; fornecemos a primeira evidência válida de que Kraepelin não estava errado, pelo menos em alguns dos pacientes”, sugeriu o outro coautor principal Matthias Schroeter.

Daniel Costa, ZAP //

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