Milhares de migrantes polacos foram reenviados pela Alemanha. Nova decisão é supostamente temporária mas pode ser renovada muitas vezes.
A Polónia restabeleceu os controlos fronteiriços com a Alemanha e a Lituânia à meia-noite de domingo (23:00 em Lisboa), uma decisão que visa conter o fluxo de imigração ilegal.
A imigração tem sido um tema central do debate político na Polónia desde a campanha para as presidenciais em 1 de junho, ganhas por Karol Nawrocki, apoiado pela oposição nacionalista populista, que derrotou o pró-europeu Rafal Trzaskowski.
“Esta decisão foi tomada para combater a imigração ilegal“, disse o ministro do Interior polaco, Tomasz Siemoniak, no domingo à noite, garantindo que, “de forma alguma”, é dirigida a cidadãos da União Europeia.
A medida foi justificada por Varsóvia com uma vaga migratória proveniente de países orientais, alegadamente orquestrada deliberadamente pela Rússia e Bielorússia, para desestabilizar o Leste europeu.
Na fronteira com a Alemanha foram selecionados 52 postos de controlo, 16 dos quais permanentes, somando-se a 12 com a Lituânia, dois permanentes, pelo menos até 5 de agosto, embora estes prazos possam ser prolongados.
Na sexta-feira, o Ministério dos Negócios Estrangeiros polaco anunciou que o país iria destacar cinco mil militares para os controlos fronteiriços com a Alemanha e a Lituânia.
Do contingente militar, quatro mil militares serão destacados para a fronteira com a Alemanha e os restantes para as passagens com a Lituânia, disse o porta-voz da diplomacia de Varsóvia, Jacek Dobrzyński.
Para atravessar a fronteira polaca será obrigatória a apresentação de um documento de identidade de um país da União Europeia ou de um passaporte, sendo que a entrada só será permitida nos locais descritos nos regulamentos.
A travessia por caminhos ou trilhos florestais, ciclovias e rios é expressamente proibida.
Segundo as autoridades, o objetivo é “minimizar os inconvenientes para os polacos, sobretudo os que trabalham na fronteira ocidental“, uma vez que “o Espaço Schengen é uma grande comodidade conquistada nos últimos anos”, segundo Dobrzyński.
Resposta à Alemanha
O primeiro-ministro polaco, Donald Tusk, explicou na quinta-feira que, há cerca de um mês, “o lado alemão, ao contrário dos últimos dez anos, recusa permitir a entrada no seu território de migrantes, em busca, por exemplo, de asilo”, e nestes casos, são expulsos “a todo o vapor” para a Polónia.
Este controlo também é uma reação à decisão do Governo da Alemanha, que anunciou que vai reenviar para a Polónia milhares de migrantes. Berlim assegura que esses migrantes atravessaram a fronteira de forma ilegal.
O Governo da Polónia admite reverter a medida, mas só se a Alemanha suspender os controlos. O Euronews destaca que esta medida é supostamente temporária mas, na prática, pode ser renovada muitas vezes.
Há dois anos que a Alemanha estabeleceu controlos nas fronteiras com Polónia e República Checa; desde o ano passado passou a controlar todas as fronteiras. Sempre com o objetivo de combater a migração ilegal.
Na Polónia, e de acordo com dados da Guarda de Fronteira, o país registou 15.022 tentativas de travessia irregular na fronteira entre a Polónia e a Bielorrússia entre 1 de janeiro e 29 de junho de 2025, com 412 detenções este ano até junho, um número semelhante ao de todo o ano passado.
A pressão também aumentou significativamente na Lituânia e na Letónia, com aumentos de mais de três e duas vezes, respetivamente, no número de tentativas de entrada.
Mais de seis mil militares foram destacados para a fronteira leste com a Bielorrússia durante mais de um ano, além de quatro mil polícias e guardas de fronteira adicionais.
ZAP // Lusa