Com o “telefone do vento”, é possível dizer o último adeus a quem já morreu

Matthew Komatsu / Wikimedia

Os telefones de vento nasceram no Japão e servem para que as pessoas “liguem” aos seus entes queridos falecidos.

Alguma vez sentiu que daria tudo para ter um último telefonema com um ente querido que já morreu? Foi para situações destas que nasceu o telefone de vento, uma forma única e simbólica de contactar com aqueles que já faleceram.

O telefone de vento é um simples telefone rotativo ou de botão de pressão localizado num ambiente tranquilo, muitas vezes natural, normalmente dentro de uma estrutura semelhante a uma cabina, explica a Smithsonian Mag.

Embora a linha telefónica esteja desligada, as pessoas utilizam-no para “ligar” aos seus entes queridos falecidos, mantendo conversas unidirecionais para exprimir sentimentos não resolvidos, partilhar memórias e manter uma ligação com os que partiram. Para muitos, este ritual torna-se numa experiência profundamente comovente e de afirmação da vida.

Criado no Japão em 2010, o primeiro telefone de vento foi criado pelo designer de jardins Itaru Sasaki, que o construiu para “falar” com um familiar falecido. Após o devastador terramoto e tsunami de Fukushima, Sasaki abriu o seu telefone de vento a outras pessoas, oferecendo um espaço para que as pessoas em luto pudessem comunicar com aqueles que perderam.

O conceito espalhou-se rapidamente pelo Japão e, eventualmente, pelo mundo. Atualmente, podem ser encontrados cerca de 200 telefones de vento nos Estados Unidos, localizados em parques, ao longo de trilhos para caminhadas e em terrenos de igrejas, proporcionando um espaço público e gratuito para as pessoas processarem o seu luto.

A eficácia dos telefones de vento, tal como muitas intervenções de luto, reside na sua capacidade de facilitar uma expressão emocional direta. Falar em voz alta com o falecido – seja através de um telefone de vento, de uma carta ou de um exercício terapêutico como a terapia Gestalt – permite a libertação de emoções reprimidas e o surgimento de perceções subconscientes. Este ato de verbalização pode ajudar a aliviar a tensão psicológica e a promover uma sensação de ligação, mesmo na ausência da presença física do ente querido.

Apesar da crescente popularidade dos telefones de vento, ainda não foi efetuada nenhuma investigação formal para validar cientificamente a sua eficácia. No entanto, a sua rápida disseminação sugere uma necessidade generalizada de tais meios de comunicação na gestão do luto.

Numa cultura que frequentemente enfatiza o “encerramento” e a superação da perda, a presença duradoura do luto pode apanhar as pessoas desprevenidas, surgindo inesperadamente naquilo que é conhecido como “ataques de luto”. O telefone de vento, embora não comprovado por pesquisas, oferece consolo para aqueles que navegam nessas ondas de emoção.

ZAP //

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