Uma mão cheia de talento político e uma pitada de maquiavelismo: a receita ideal para um líder eficaz

Nickniko / Wikimedia

Haverá uma redenção para Machiavelli? Os traços maquiavélicos até podem ser úteis na liderança quando conjugados com o talento para a política, segundo um novo estudo.

Ser maquiavélico é muitas vezes visto como sinónimo de ser manipulador ou perigoso. Mas se perguntássemos a Niccolò Machiavelli o que inspirou a conhecida obra “O Príncipe”, é provável que o filósofo italiano se defendesse afirmando que apenas se limitou a dar conselhos para que um líder político de consolide no poder.

E parece que pode haver alguma verdade nisso. Um novo estudo publicado na Journal of Personnel Psychology revelou que ter traços de ambição maquiavélica pode ajudar-nos a ser melhores líderes com um senão — também temos de ter talento para a política.

Estudos anteriores já tiveram resultados ambivalentes quando avaliam se o maquiavelismo é ou não um bom ingrediente a acrescentar à receita para se criar um líder inspirador e eficaz, sugerindo que isso depende da conjugação com outros factores decisivos.

Para esta pesquisa, os investigadores usaram os dados de 600 gestores de nível baixo ou médio que, por sua vez, convidaram o seu superior e dois subordinados a participarem no estudo.

A amostra incluía 317 líderes, 211 superiores e 389 subordinados e foram medidos os seus traços maquiavélicos, o nível de habilidade política, a liderança transformadora, a eficácia na liderança e outras variáveis de controlo.

Os resultados mostraram que os líderes com classificações mais altas no maquiavelismo eram vistos como mais eficazes quando tinham habilidades políticas mais elevadas, já que eram estratégicos com os seus comportamentos sociais e no controlo dos seus impulsos — duas típicos pontos fracos para os maquiavélicos.

No entanto, os maquiavélicos com níveis médios e baixos de habilidade política não foram vistos com líderes eficazes.

“Muitas das pessoas poderosas no nosso mundo são maquiavélicas e acham que devem usar todos os meios para alcançarem os objectivos, independentemente do sofrimento dos outros. Os maquiavélicos com sucesso criam uma imagem positiva para se integrarem no contexto social. Então parecem inócuos mas são fundamentalmente maus”, revela Gerhard Blickle, autor do estudo, ao PsyPost.

Os cientistas admitem ainda algumas limitações no estudo, como a falta de medição de outros traços de personalidade, como o carisma. Apesar de poder não ser visto com bons olhos, é possível que no final de contas, seja mesmo mais vantajoso ser temido do que ser amado.

Adriana Peixoto, ZAP //

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