Taiwan anunciou ter detetado esta quinta-feira três navios de guerra chineses e um helicóptero anti-submarino perto da ilha, depois de um encontro entre a líder taiwanesa e o presidente da Câmara dos Representantes dos Estados Unidos.
“Um avião do Exército Popular de Libertação [EPL] e três navios [do EPL] foram detetados às 06:00” (23:00 de quarta-feira em Lisboa), disse o Ministério da Defesa de Taiwan, em comunicado.
“As forças armadas monitorizaram a situação e encarregaram um avião da Patrulha de Combate Aéreo, navios da marinha e sistemas de mísseis terrestres de responder a estas atividades”, acrescentou.
Tsai Ing-wen, que vem de um partido defensor da independência da ilha – uma linha vermelha absoluta para a China – encontrou-se na quarta-feira com Kevin McCarthy na Biblioteca Presidencial Ronald Reagan em Simi Valley, perto de Los Angeles, apesar das repetidas ameaças de retaliação de Pequim nas últimas semanas.
Antes do encontro, foi detetada a passagem de uma frota da marinha chinesa, liderada pelo porta-aviões Shandong, a cerca de 400 quilómetros a sul da ilha.
Em comunicado, o Ministério da Defesa de Taiwan indicou que o porta-aviões Shandong foi detetado ao passar pelo canal Bashi – entre Taiwan e as Filipinas – em trânsito para o Pacífico oriental, onde deve iniciar as primeiras manobras de longo alcance. O Shandong é o segundo porta-aviões da China, o primeiro fabricado internamente, e entrou o ano passado em serviço.
As autoridades de Taipé denunciaram também uma “operação especial de patrulha”, anunciada esta semana pelo exército chinês, nas águas do estreito de Taiwan. Taipé descreveu as ações chinesas como um “comportamento impróprio de um país moderno e responsável”, informou a agência de notícias oficial taiwanesa CNA.
Até ao momento não se sabe se a instalação do porta-aviões faz parte dessa operação, que começou na madrugada de quarta-feira e cuja duração não foi especificada.
Analistas citados pelo jornal oficial do Partido Comunista Chinês Global Times disseram que a passagem do Shandong “demonstra que o segundo porta-aviões do Exército de Libertação Popular está preparado para operações em alto mar e para salvaguardar a soberania e integridade territorial da China”.
Esse tipo de exercício é espectável, uma vez que o porta-aviões só pode testar todas as suas capacidades de manobra com frotas em mar aberto, disse o especialista Zhang Xuefeng.
A China já tinha lançado também manobras militares sem precedentes em torno de Taiwan em agosto passado, quando a antecessora de McCarthy na Câmara, a democrata Nancy Pelosi, visitou Taiwan.
Pequim prometeu na quinta-feira “medidas determinadas e eficazes para salvaguardar a soberania e integridade territorial”. O Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês comparou a reunião Tsai-McCarthy em solo norte-americano a “atos de conluio gravemente equivocados” entre os Estados Unidos e Taiwan, de acordo com uma declaração.
O anúncio chegou quando o Presidente francês, Emmanuel Macron, se encontra numa visita de estado a Pequim, tendo previsto um encontro durante o dia com o homólogo chinês, Xi Jinping.
O Taipei Mainland Affairs Council (MAC), o principal órgão de decisão política da ilha autónoma em relação à China, acusou Pequim na quarta-feira de “obstruir o comércio” no estreito de Taiwan através da realização de inspeções no local a navios de carga e de passageiros.
As autoridades marítimas chinesas tinham dito anteriormente que estavam a intensificar as patrulhas nas águas que separam a ilha da China continental, sem darem mais pormenores.
“A ação do lado chinês agrava deliberadamente as tensões entre os dois lados do estreito”, disse o MAC. “Trata-se de uma violação flagrante do acordo de navegação entre os dois lados do estreito e das práticas marítimas, que terá um impacto negativo significativo no tráfego normal entre os dois lados do estreito”, disse Taiwan.
A China considera que a ilha democrática e autónoma de Taiwan é uma das suas províncias a ser retomada, favorecendo a “reunificação pacífica”, mas não excluindo o uso da força.
Em nome do princípio “uma só China”, nenhum país deve ter laços oficiais com Pequim e Taipé ao mesmo tempo. Apenas 13 Estados ainda reconhecem Taiwan, incluindo Belize e Guatemala, países latino-americanos que Tsai visitou nos últimos dias para cimentar a relação com os poucos aliados oficiais, após uma primeira paragem em Nova Iorque.
Mas os Estados Unidos mantêm há muito tempo uma “ambiguidade estratégica” sobre a questão de Taiwan. Washington reconheceu Pequim desde 1979, mas continua a ser o mais poderoso aliado de Taiwan e o principal fornecedor de armas.
Com Tsai, Taiwan aproximou-se dos Estados Unidos, tendo McCarthy apelado para a “continuação das vendas de armas” à ilha, defendendo serem a “melhor maneira” de evitar uma invasão chinesa da ilha. “Esta é uma lição chave que aprendemos com a Ucrânia, que a ideia de meras sanções no futuro não irá deter ninguém”, disse o Republicano aos jornalistas.
Esta é a primeira vez que um líder da Câmara dos Representantes recebe oficialmente a Presidente de Taiwan em solo norte-americano desde que as relações diplomáticas diretas cessaram, há 44 anos.