TAC aumenta o risco de cancro tanto quanto o álcool ou obesidade, conclui novo estudo

Estudo mostra que exame pode causar 5% dos casos de cancro registados por ano nos EUA. Investigadores alertam para o uso excessivo e desnecessário de tomografias computorizadas.

No início da semana, investigadores norte-americanos alertaram para os riscos dos exames de tomografia computorizada (TC, mais conhecidos como TACs) — um procedimento padrão utilizado para obter imagens detalhadas das estruturas internas do corpo com vista ao diagnóstico de doenças.

Segundo o recente estudo, se o uso excessivo deste exame não for reduzido, as tomografias poderão ser responsáveis por 5% dos casos de cancro diagnosticados num ano.

“A TC pode salvar vidas, mas os seus riscos potenciais são frequentemente ignorados”, diz Rebecca Smith-Bindman, radiologista da Universidade da Califórnia em São Francisco, que coordenou a investigação.

A TC combina uma série de radiografias para criar uma imagem tridimensional do paciente. O aparelho de tomografia assemelha-se a um grande anel, no qual o paciente deitado é posicionado. Este é então movido para dentro do anel, que realiza centenas de raios-X da zona analisada do corpo.

A tomografia computorizada é diferente da ressonância magnética (RM), embora o equipamento tubular utilizado no exame seja semelhante. Ao contrário da TC, os aparelhos de RM utilizam ímanes potentes para enviar ondas de rádio através do corpo, criando imagens detalhadas. Ambos os exames permitem obter imagens de alta resolução, mas a exposição aos raios-X na TC acarreta riscos.

Um em cada 20 casos

Para lançar o alerta, os investigadores modelaram a probabilidade de desenvolvimento de cancro em 61,5 milhões de pacientes que realizaram uma tomografia computorizada nos Estados Unidos. O estudo baseou-se nos números atuais de exames de TC realizados e nas taxas de incidência de cancro.

O estudo, publicado esta segunda-feira na JAMA Internal Medicine, estimou que a exposição à radiação proveniente da TC poderá provocar, no futuro, cerca de 103 mil casos de cancro entre o grupo analisado. Isso equivale a 5% do total de novos diagnósticos de cancro por ano nos Estados Unidos.

A TC tem vindo a ser cada vez mais utilizada para fins de diagnóstico. Desde 2007, registou-se um aumento de 30% na realização deste tipo de exame nos EUA. É mais frequentemente realizada em pacientes com idades entre os 60 e os 69 anos.

Umas TACs são mais propícias a cancro que outras

O estudo também revelou que as tomografias abdominais e pélvicas apresentavam maior probabilidade de provocar cancro em adultos, enquanto nas crianças os riscos eram mais elevados em exames ao crânio.

Ainda segundo a investigação, crianças que realizaram uma TC antes de completarem um ano de idade apresentaram um risco dez vezes superior de desenvolver cancro em comparação com qualquer outra faixa etária.

“O nosso estudo coloca a TC ao mesmo nível de outros fatores de risco, como o consumo de álcool e o excesso de peso”, salientou Smith-Bindman. “Reduzir o número de tomografias pode salvar vidas.”

“Um facto” que já se conhecia, mas…

De realçar que estudo baseou-se em pacientes do sistema de saúde norte-americano. Os investigadores identificaram o uso excessivo e desnecessário de exames de TC, nomeadamente no diagnóstico de infeções respiratórias e dores de cabeça. Smith-Bindman destacou ainda que, em alguns casos, as doses de radiação utilizadas durante o exame também foram excessivas.

Outros profissionais de saúde concordam que o uso indevido das TCs pode representar um risco para os pacientes. “É um facto bem estabelecido que a radiação causa cancro”, afirmou Pradip Deb, especialista em segurança radiológica da Universidade RMIT, na Austrália, que não participou no estudo.

Deb salientou que, embora se saiba que a radiação ionizante pode danificar o ADN, ainda não se compreende totalmente o seu mecanismo de ação. “Nem todas as pessoas expostas à radiação desenvolverão cancro”, acrescentou.

Apesar dos riscos associados aos raios-X, estes são uma ferramenta essencial na medicina e podem fornecer informações vitais sobre o estado clínico de um paciente. “Este estudo demonstrou claramente a importância de limitar a dose de radiação sempre que possível e de evitar TCs desnecessárias”, reforçou Deb.

Porque são os raios-X prejudiciais?

O espectro electromagnético divide-se pelas diferentes frequências de radiação, consoante o comprimento de onda. No centro encontra-se o espectro visível, que inclui os comprimentos de onda correspondentes ao vermelho, laranja, amarelo, verde, azul, anil e violeta.

Existem ainda faixas de baixa frequência, como as ondas de rádio, micro-ondas e infravermelhos, e faixas de alta frequência, como a radiação ultravioleta (UV), os raios-X e os raios gama. Esta radiação de alta frequência, conhecida como radiação ionizante, representa um risco para a saúde.

A radiação ionizante tem capacidade para remover eletrões de um átomo. Isso significa que possui energia suficiente para danificar moléculas. Nos seres humanos, esses danos podem originar uma série de problemas, incluindo o cancro.

// DW

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