Imagens impressionantes de uma supernova recente a transbordar de poeira fresca foram capturadas por um telescópio no deserto do Atacama, no Chile.
É a primeira vez que os astrónomos testemunham a origem dos grãos que formaram as galáxias no chamado universo primordial, a primeira fase de formação do universo após o Big Bang.
As imagens foram capturadas pelo Alma, o telescópio Atacama Large Millimeter/submillimeter Array, no Chile, e foram reveladas na 223ª reunião da American Astronomical Society.
As imagens da supernova, uma explosão estelar, vão ser divulgadas no Astrophysical Journal Letters.
Desvanecimento de gigantes
O universo está cheio de pequenas partículas sólidas – desde as faixas escuras que vemos na Via Láctea às belas nuvens nas fotos icónicas do telescópio espacial Hubble, lançado em 1990.
A poeira cai nos planetas e ajuda na formação de estrelas. Mas apesar de sua omnipresença, não há provas concretas da sua origem.
No universo de hoje, boa parte dessa poeira forma-se em torno de estrelas que estão a morrer. Mas essas gigantes não estavam por perto no início do universo.
“É o mesmo problema que temos em minha casa – há uma grande quantidade de poeira e não sabemos de onde vem. O espaço é um lugar bastante confuso”, brincou Remy Indebetouw, astrónomo do National Radio Astronomy Observatory.
“Então usamos um dos telescópios mais avançados tecnologicamente, o Alma, e tentamos descobrir como a poeira era formada no universo primordial.”
“Há algum tempo que acreditamos que as supernovas são as criadoras das poeiras nas galáxias. Mas apanhar uma mesmo no acto está longe de ser coisa fácil”, diz Indebetouw à BBC.
“E mesmo quando conseguimos observar uma supernova envolvida por uma nuvem de poeira, há a velha questão da galinha e do ovo: como sabemos que a nuvem não estava lá antes?”
‘Não é Incómodo’
Para esclarecer a questão, um grupo de astrónomos ingleses e americanos usou o Alma para observar os restos brilhantes da 1987A, a supernova mais próxima observada recentemente, a 168 mil anos-luz da Terra.
Os astrónomos observaram que, enquanto o gás esfriava após a explosão, moléculas sólidas se formavam no centro a partir de átomos de oxigénio, carbono, e silício.
Observações anteriores da 1987A com o telescópio de infravermelho Herschel só tinham permitido detectar uma pequena quantidade de poeira quente.
Mas, graças ao poder do telescópio Alma, apenas 20 minutos foram necessários para captar as provas esperadas.
“Encontrámos uma notável massa de pó concentrada na parte central do material ejectado”, conta Indebetouw.
“E tudo importa – a área vermelha que se vê no centro da imagem – estava lá no núcleo da estrela antes dela explodir. Isso é emocionante.
“As pessoas pensam na poeira como um incómodo, algo que se atravessa no caminho. Mas na verdade é algo muito importante.”
Mas as supernovas não marcam apenas a destruição de estrelas, elas também são a fonte de novos materiais e de energia, diz Jacco van Loon, da Universidade de Keele, co-autor do estudo.
“A nossa vida seria muito diferente sem os elementos químicos que foram sintetizados nas supernovas ao longo da história”, disse ele.
“Os grãos são incrivelmente difíceis de produzir no vasto vazio do espaço. E se as supernovas realmente produzem muitos deles, isto tem consequências muito importantes e positivas para a eventual formação do Sol e da Terra.”
ZAP / BBC