Enorme supernova terá causado uma era glacial na Terra. Pode votar a acontecer

CTIO / NOIRLab / DOE / NSF / AURA

Remanescente da supernova Vela

A explosão massiva de uma supernova, há cerca de 13.000 anos, poderá ter desencadeado a era glacial do Dryas Recente, ao danificar a camada de ozono da Terra com radiação mortal — provocando a extinção dos mamutes lanosos, preguiças gigantes e outras espécies de megafauna então existentes.

Um novo estudo liga a explosão massiva da supernova de Vela, a apenas 287 anos-luz da Terra, ao Dryas Recente, misterioso período em que as temperaturas caíram repentinamente durante 1.300 anos, interrompendo o fim da última era glacial.

A explosão cósmica, ocorrida há cerca de 13.000 anos, poderá ter mergulhado subitamente a Terra numa nova era glacial, eliminando mamutes lanosos, preguiças gigantes e outras criaturas de grande porte em toda a América do Norte.

De acordo com o estudo, publicado em abril na revista Monthly Notices of the Royal Astronomical Society, pelo menos oito supernovas próximas — as mortes violentas de estrelas massivas — libertaram radiação de energia suficiente para eliminar a camada protetora de ozono da Terra, desencadear um arrefecimento global e causar extinções generalizadas de animais.

“Temos mudanças ambientais abruptas na história da Terra. Isso é sólido, vemos essas mudanças”, explica Robert Brakenridge, investigador da Universidade do Colorado e autor do estudo, num comunicado divulgado esta passada pela universidade. “Então, o que as causou?”

No decorrer do estudo, Brakenridge analisou 78 remanescentes conhecidos de supernovas e encontrou um padrão impressionante: eles parecem andar de mãos dadas com mudanças climáticas na Terra.

“Os eventos que conhecemos, aqui na Terra, coincidem com estes eventos: batem certo no momento e na intensidade“, diz Brakenridge.

Os seus cálculos mostram que estas explosões estelares foram suficientemente poderosas para danificar a atmosfera da Terra e alterar o sistema climático do planeta, o que significa que a história do nosso mundo tem sido moldada não apenas por desastres terrestres, mas também pelas mortes de estrelas distantes.

As supernovas estão entre os eventos mais energéticos do universo. Quando uma estrela massiva esgota o seu combustível nuclear, colapsa e explode com mais energia do que o nosso sol produzirá durante toda a sua vida de 10 mil milhões de anos, explica o Study Finds.

Estas explosões podem durante algum tempo brilhar mais do que galáxias inteiras, enviando radiação mortal através de vastas distâncias.

Brakenridge examinou remanescentes de supernovas (as expansivas conchas de gás e detritos deixados por estas explosões) num raio de 2.300 anos-luz da Terra, e calculou quanta radiação nociva de raios X e raios gama cada explosão teria enviado para o nosso planeta.

Embora 287 anos-luz possa parecer impossivelmente distante (cerca de 2.700 biliões de quilómetros), em termos cósmicos é praticamente “aqui ao lado“.

Das 78 supernovas analisadas, 8 estavam suficientemente próximas e eram suficientemente poderosas para afetar significativamente a Terra.

A explosão de Vela, um “assassino climático cósmico“, destaca-se como exemplo mais dramático, alinhando-se notavelmente com várias mudanças dramáticas na história da Terra, quando o nosso planeta estava a emergir da última era glacial, há cerca de 13.000 anos.

A análise de Brakenridge revela que a explosão teria bombardeado o nosso planeta com radiação suficiente para danificar severamente a camada de ozono — a fina camada atmosférica que protege a vida dos raios ultravioleta nocivos do sol.

Registos de anéis de árvores mostram um súbito pico de 35 partes por milhão de carbono-14 radioativo, o que indica aumentos massivos de radiação atmosférica. Amostras de gelo de ambos os polos revelam uma diminuição abrupta nas concentrações de metano.

Sítios arqueológicos em toda a América do Norte apresentam registos fósseis que documentam a extinção de mamutes, mastodontes, preguiças gigantes e tigres-dentes-de-sabre.

Todas estas mudanças coincidem com o início do Dryas Recente, quando as temperaturas globais caíram e os mantos de gelo começaram a avançar novamente.

Quando radiação de alta energia atinge a atmosfera da Terra, decompõe as moléculas de nitrogénio, criando compostos que destroem o ozono. Com menos proteção atmosférica, seis vezes mais radiação ultravioleta prejudicial atingiria a superfície da Terra, causando danos no ADN de plantas e animais, além de desencadear incêndios florestais massivos.

Para além de Vela, Brakenridge identificou várias outras potenciais ligações de supernovas ao longo da história recente da Terra.

Registos de anéis de árvores mostram picos inexplicáveis de carbono-14 há 9.126, 7.209, 2.764, 2.614, 1.175 e 957 anos, todos correspondendo a remanescentes conhecidos de supernovas próximas de idades e distâncias apropriadas.

A supernova de Hoinga, que explodiu há cerca de 15.000 anos a cerca de 350 anos-luz de distância, pode ter causado um aumento de carbono-14 de 30 partes por milhão num ano, coincidindo com outro período frio chamado Dryas Antigo.

Os resultados do estudo revelam também uma clara relação de causalidade: explosões mais próximas criaram impactos ambientais maiores.

O autor do estudo sugere que este tipo de eventos poderiam voltar a influenciar o nosso planeta. “Quando supernovas próximas ocorrerem no futuro, a radiação poderá ter um efeito bastante dramático na sociedade humana“, diz Brakenridge. “Assim, é importante descobrir se, de facto, causaram mudanças ambientais no passado”.

Atualmente, várias estrelas próximas poderiam tornar-se supernovas, incluindo Betelgeuse, uma gigante vermelha a cerca de 170 anos-luz de distância que pode explodir dentro de um milhão de anos.

Embora seja improvável que cause uma extinção em massa (e que estejamos cá para assistir), tal evento poderia afetar de forma mensurável a atmosfera e clima da Terra. Mas curiosamente, os astrónomos estão impacientemente à espera que a Betelgeuse nos surpreenda com a sua tão aguardada explosão.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.