Magnetar errante capaz de destruir tudo a grande distância está a atravessar a Via Láctea

Carl Knox / OzGrav

Impressão artística do magnetar Swift J1818.0–1607

É um “raio da morte cósmico” capaz de destruir átomos a mil quilómetros de distância, e está a atravessar a Via Láctea — mas não representa propriamente motivo de preocupação para os terráqueos.

Segundo um estudo publicado a semana passadana revista Astronomy & Astrophysics, um magnetar errante, denominado SGR 0501+4516, está a atravessar a nossa galáxia sem um rasto claro da sua origem,

Este objeto, inicialmente descoberto em 2008 pelo observatório Swift da NASA, é um dos 30 magnetares conhecidos na Via Láctea, mas o seu comportamento desafia as teorias convencionais sobre a sua formação.

Os magnetares são um tipo muito raro e exótico de estrela de neutrões, caracterizado pelo seu campo magnético incrivelmente intenso. São cadáveres estelares compostos quase inteiramente por neutrões, explica o LBV.

O que os torna únicos é o seu campo magnético extremo, até um bilião de vezes mais potente do que o da Terra. Estes campos magnéticos são os mais fortes conhecidos no Universo.

Se um magnetar passasse entre a Terra e a Lua, apagaria a informação de todos os cartões de crédito do planeta, explica Ashley Chrimes, investigador da Agência Espacial Europeia (ESA) e autor principal do estudo.

Pior ainda, se uma pessoa se aproximasse a menos de 1.000 quilómetros, o magnetar destruiria os seus átomos um a um, transformando-se numa espécie de “raio da morte” cósmico.

O mistério da sua origem

Inicialmente, os astrónomos acreditavam que o SGR 0501+4516 se tinha formado numa supernova, como a maioria dos magnetares.

De facto, SGR 0501+4516  está próximo de um remanescente de supernova chamado HB9, a apenas 80 minutos de arco de distância no céu (equivalente à largura de um dedo mindinho esticado à distância de um braço).

No entanto, uma década de observações com o Hubble e dados da missão Gaia da ESA revelaram algo inesperado: o magnetar não provém dessa explosão estelar.

“Todo o movimento que medimos é menor do que um píxel numa imagem do Hubble”, observa Joe Lyman, astrofísico da Universidade de Warwick, no Reino Unido, e coautor do estudo. “Conseguir fazer estas medições demonstra a excecional estabilidade a longo prazo do Hubble.”

Ao traçar a sua trajetória, a equipa descobriu que o SGR 0501+4516 se move demasiado rápido e numa direção incompatível com o remanescente de supernova próximo. Quando recuaram o seu percurso milhares de anos no passado, não encontraram nenhum outro remanescente ou aglomerado de estrelas massivas que pudesse explicar o seu nascimento.

Se o magnetar não nasceu numa supernova, então como se formou?

Os investigadores consideram duas possibilidades: poderia ser o resultado da colisão de duas estrelas de neutrões menos massivas, ou podemos estar perante um cenário em que uma anã branca absorve material de uma estrela companheira até colapsar e tornar-se um magnetar.

“Normalmente, este processo desencadeia uma explosão nuclear e a anã branca desaparece. Mas sob certas condições, poderia colapsar diretamente numa estrela de neutrões”, explica Andrew Levan, investigador da Universidade de Radboud, nos Países Baixos, e coautor do estudo.

Este magnetar poderia ser a peça que falta para explicar um dos maiores enigmas da astronomia moderna: os surtos rápidos de rádio (FRBs), pulsos de ondas de rádio extremamente intensos mas muito breves (milissegundos).

Alguns FRBs provêm de regiões com estrelas demasiado antigas para ter supernovas recentes. Se o SGR 0501+4516 se formou sem explosão estelar, a sua existência apoiaria a teoria de que magnetares “órfãos” podem gerar estes sinais.

“Magnetares como este poderiam estar por trás de eventos cósmicos extremos, como surtos de raios gama, supernovas superluminosas e FRBs”, afirma Nanda Rea, investigadora do Instituto de Ciências Espaciais de Barcelona, em Espanha.

A equipa planeia usar o Hubble para estudar outros magnetares na Via Láctea e determinar se existem mais casos como o SGR 0501+4516. Cada descoberta aproxima os astrónomos da solução do enigma de como estes monstros nascem e qual o seu papel nos fenómenos mais violentos do universo.

Entretanto, este magnetar errante continua a sua jornada pela nossa galáxia, desafiando tudo o que pensávamos saber sobre o destino das estrelas mortas.

ZAP //

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.