Vem aí a Superliga Europeia 2.0. Terá pelo menos 60 equipas, mas nenhuma será inglesa

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Neil Hall / EPA

Protestos de adeptos do Chelsea contra a Superliga Europeia.

O novo projecto será uma competição aberta que pretende competir com o poderio financeiro da Premier League.

A Superliga Europeia está de volta, mas com uma nova cara. Quase dois anos após a primeira versão do projecto ter colapsado apenas dois dias depois de ser anunciado, a criação de uma nova competição europeia para rivalizar com a Liga dos Campeões está outra vez em cima da mesa.

Desta vez, a proposta não tem equipas permanentes e a liga funcionará com várias divisões, acolhendo entre 60 e 80 clubes, no total. Cada equipa jogará, no mínimo, 14 jogos por temporada, relata o Daily Mirror.

O novo projecto foi apresentado pela A22 Sports Management — a empresa que já tinha liderado o esforço anterior — e continua a ser encabeçado pelo Real Madrid, Barcelona e Juventus, os três clubes que estão actualmente no meio de uma batalha legal com a UEFA em que alegam que o monopólio do regulador europeu viola as leis de mercado da União Europeia.

A proposta terá sido finalizada após serem consultados cerca de 50 clubes em toda a Europa que estão preocupados com os seus crescentes problemas financeiros crescentes, que se agravaram desde a pandemia.

“Está na hora da mudança. São os clubes que sofrem os riscos no futebol. Mas quando estão em causa decisões importantes, são forçados a ficar sentados à margem. As nossas consultas deixaram claro que os clubes acham impossível criticar publicamente um sistema que usa a ameaça de sanções para silenciar a oposição”, explica Bernd Reichart, CEO da A22 Sports Management, ao jornal alemão Die Welt.

Uma das maiores críticas contra a Superliga apresentada em 2021 era o facto de ser uma competição fechada e sem o sistema de promoção e despromoção, num modelo de franchising. Desta vez, a liga será aberta, com a qualificação a ser conseguida através do resultado conseguido a nível nacional, num sistema semelhante ao que acontece actualmente com a qualificação para a Liga dos Campeões.

Reichard prevê que o projecto avance no terreno na temporada 2024/2025, apesar de ainda não se saber o desfecho da batalha legal com a UEFA.

Guerra contra a Premier League

Um dos detalhes mais interessantes do novo plano é a ausência total de equipas inglesas, uma grande diferença face à versão anterior, que incluía os Big 6 britânicos — Manchester United, Liverpool, Arsenal, Tottenham, Manchester City e Chelsea.

Há actualmente um enorme desequilíbrio financeiro entre a Premier League e as restantes quatro principais ligas europeias, com os clubes ingleses muitas vezes a gastar mais nas janelas de transferências do que todas as outras ligas juntas.

Por exemplo, na janela de Janeiro de 2023, 31 das 35 contratações mais caras foram feitas por equipas inglesas. Até clubes mais pequenos ou que estão a lutar para sobreviverem à despromoção, como o Aston Villa, o Leeds United ou o Southampton, gastaram mais no mercado de Inverno do que gigantes europeus como o Bayern de Munique, o Nápoles ou o Real Madrid.

Os gastos enormes do Chelsea, que já investiu mais de 600 milhões de euros em jogadores só nesta temporada, e o poderio financeiro de clubes detidos por estados-nação árabes, como o Manchester City ou o Newcastle, praticamente impossibilita a competição de outros clubes europeus, que não têm forma de oferecer salários competitivos e acabam por perder as corridas pelas contratações dos jogadores.

O domínio inglês têm causado dores de cabeça aos rivais de outros países, muito em parte devido à enorme diferença de valores nos acordos para os direitos de transmissão televisiva. A Serie A e a La Liga estão também a ter dificuldades em competir com os valores conseguidos pela UEFA para a transmissão da Champions.

Joan Laporta, presidente do Barcelona — que é o clube mais endividado do mundo — confirmou recentemente que a nova competição não irá incluir clubes ingleses.

“Teremos uma competição europeia que compete com a Premier League. Acredito que os clubes ingleses não entrarão no princípio. Gostaríamos muito que eles viessem, mas a minha opinião é que, inicialmente, eles não virão. Acredito que tudo terminará com uma fusão mais tarde”, antecipa.

“Um cadáver ambulante”

O anúncio desta Superliga 2.0 foi feito apenas esta manhã, mas já suscitou algumas reacções negativas. Num comunicado, a La Liga criticou as manobras de marketing do grupo A22 para limpar a imagem negativa que manchou o projecto anterior.

“A Superliga é o lobo na história do Capuchinho Vermelho. Está a mascarar-se como uma competição aberta e tendo por base o mérito, mas por baixo está o mesmo projecto egoísta, elitista e alimentado pela ganância. Não deixem que as histórias deles vos enganem”, atirou a liga espanhola.

O líder da Associação de Adeptos de Futebol, Kevin Miles, comparou a proposta a um cadáver ambulante. “O cadáver ambulante que é a Superliga Europeia contorce-se de novo com toda a auto-consciência de um zombie. A nova ideia deles é ter uma ‘competição aberta’ em vez da loja fechada que propuseram inicialmente e que levou a enormes protestos dos adeptos”, começa.

“Mas é claro que uma competição aberta para os principais clubes europeus já existe — chama-se Liga dos Campeões. Eles dizem que o ‘diálogo com os adeptos e com grupos de adeptos independentes é essencial’, no entanto a Liga Zombie Europeia continua a marchar, deliberadamente a ignorar o desprezo que os adeptos por todo o continente têm pela ideia”, remata.

Adriana Peixoto, ZAP //

2 Comments

  1. Volto a encontrar no ZAP a palavra “practicamente”! Tal palavra não existe na língua portuguesa – o que existe é praticamente. E não tem a nada a ver com o famoso Acordo Ortográfico!

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