Subida do preço dos alimentos é causada por dinheiro dado aos pobres no Brasil, diz vice-presidente

Palácio do Planalto / Flickr

O vice-Presidente do Brasil, Hamilton Mourão

O vice-Presidente do Brasil, Hamilton Mourão, defende que a subida no preço dos alimentos registada no país nos últimos meses foi causada pelo dinheiro destinado pelo Governo aos pobres, afetados pela pandemia de covid-19.

“Uma porção [grande quantidade] de gente comprando porque o dinheiro que o Governo injetou na economia foi muito acima do que as pessoas estavam acostumadas, tanto que está havendo grande compra de alimentos e de material de construção”, afirmou Mourão ao ser questionado sobre o assunto por jornalistas em Brasilia na quarta-feira.

O vice-Presidente brasileiro salientou, citado pela agência Lusa, que esta subida no preço dos alimentos “é uma questão da lei da oferta e da procura”.

Desde abril, o Brasil distribui um auxílio em dinheiro à população que foi duramente afetada pela pandemia, nomeadamente trabalhadores independentes e sem contrato formal de trabalho. O dinheiro foi divido em cinco parcelas de 600 reais (96,11 euros). Na última semana, foi confirmada mais uma prorrogação desta ajuda, dessa vez por mais quatro parcelas, mas o valor caiu para 300 reais (48,05 euros).

No entanto, vários especialistas têm uma explicação diferente para a subida dos preços, considerando que estes dispararam pressionados pelo forte aumento da procura no mercado externo graças à subida do dólar face à moeda brasileira, o real.

O preço do arroz e do feijão, dois dos principais alimentos da dieta brasileira, saltou mais de 20% neste ano. Esta subida foi responsável por 80% da inflação acumulada no ano no Brasil, que chegou a 0,70%, segundo dados divulgados na quarta-feira pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

A desvalorização de cerca de 40% da moeda brasileira atraiu compradores, incentivando os produtores rurais a apostar nas exportações em detrimento das vendas no mercado interno, o que fez os preços subirem dentro do país.

“A alta do dólar fez com que os exportadores de arroz, soja, carnes, café, açúcar passassem a ter uma vantagem muito grande no exterior em termos de preços e passassem a cobrar um preço mais alto internamente, reduzindo a oferta”, explicou Mauro Rochlin, economista do Centro de Estudos da Fundação Getulio Vargas (FGV) à Efe.

Em comunicado, a Associação Paulista de Supermercados (APAS) também frisou que as sucessivas subidas nos preços dos alimentos “são provenientes de variáveis do mercado como maior exportação, câmbio e quebra de produção”.

O posicionamento da APAS foi uma resposta dada ao Presidente brasileiro, Jair Bolsonaro, que na semana passada pediu aos comerciantes e redes de supermercados que ajam com “patriotismo” para evitar a subida do valor dos alimentos.

O Brasil é o país lusófono mais afetado pela pandemia e um dos mais atingidos no mundo, com mais de 4,1 milhões de casos e 127.464 óbitos provocados pela covid-19.

// Lusa

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