“Sou trans”. Foi o que bastou Ruan, um jovem português de 21 anos, dizer para ser agredido perto de casa, em Inglaterra.
De acordo com o Público, Ruan Filipe, natural de Santa Maria da Feira, terá sido agredido na noite da passada sexta-feira (18 de junho), perto de sua casa, em Bournemouth, Inglaterra.
O jovem português contou, em declarações ao P3, que estava a fumar um cigarro, quando foi abordado por um grupo de homens que lhe pediram isqueiro e o convidaram a entrar no carro. Depois de recusar, perguntaram-lhe como tinha barba na cara e “uma voz feminina”.
“Porque sou trans”, disse Ruan, antes do grupo o começar a agredir. “Puxaram-me para o chão, tinham facas e soqueiras com lâminas. Foi assim que me fizeram os cortes na cara, na barriga e nas pernas”, contou.
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Além disso, e de acordo com Ruan, colocaram-lhe “qualquer coisa na boca”, provavelmente um pano, para que não pudesse gritar, e só pararam de o agredir quando, perante a tentativa de lhe arrancarem as calças, o jovem mordeu um dos agressores.
“Comecei a correr e escondi-me atrás de um supermercado. Só voltei a casa passado uma hora”, relata, explicando que não existe nenhuma testemunha.
Esta não foi a primeira vez que Ruan foi vítima de um ataque de transfobia — já o tinha sido em Portugal e em Inglaterra. Desta vez, dirigiu-se à polícia, mas acabou por não apresentar queixa.
“A polícia disse que não havia ponto [por onde pegar]. Aqui não há câmaras, ninguém viu, ninguém ouviu porque me enfiaram aquilo na boca. Ou seja, é um caso perdido”, lamenta.
O desencorajamento feito pela polícia em relação à apresentação de queixa “acontece muitas vezes”, refere Marta Ramos, da Ilga (Intervenção Lésbica, Gay, Bissexual e Transgénero).
“Por um lado, porque há uma falta de perceção da importância e da gravidade destas questões. Mas também porque é importante gerir as expectativas das próprias pessoas. Há muitos casos em que se não há informação nenhuma sobre os agressores, não há contexto específico, o mais natural é que não haja forma de encontrar as pessoas agressoras”, explica, ao Público.
“O papel da autoridade é fazer cumprir a lei. Se a pessoa foi vítima de um crime, o passo natural seguinte é apresentar queixa. Caso contrário, estamos a colocar o ónus e a responsabilidade em cima da vítima”, conclui.
Os agressores fazem isto porque têm medo. Medo do que é diferente e não compreendem. É por serem medrosos que atacam em grupo. Sozinhos são incapazes. Basicamente, são covardes.
Nem mais.