Os dois campeões do triplo salto trocaram insultos este domingo, com Nélson Évora a criticar novamente o processo de naturalização de Pedro Pablo Pichardo, que respondeu acusando Évora de inveja.
Já havia sinais de que Nélson Évora e Pedro Pablo Pichardo não iam com a cara um do outro, mas estalou o verniz de vez este domingo.
Os dois campeões mundiais de triplo salto por Portugal envolveram-se numa troca de insultos e acusações este fim de semana, após Nélson Évora ter falado sobre Pichardo numa entrevista ao Observador, onde afirmou que Portugal o “comprou” .
“Fico contente que ele trazer uma medalha, mas isto espelha o quê? Interesse de quem? Quem é que lucrou com isso? Foi Portugal! Claro, é bom, no curto prazo. Foi um investimento feito no curto prazo. Foi comprado um atleta para poder ter resultados a curto prazo. É uma referência. É como é! Não tenho nada contra ele e nunca tive”, disse Nélson Évora.
As críticas ao rápido processo de naturalização de Pichardo — que nasceu em Cuba e obteve nacionalidade em Dezembro de 2017, depois de ser contratado pelo Benfica em Abril do mesmo ano — continuam, com Évora a considerar injusta a rapidez do processo de Pichardo quando há outros atletas que esperam anos para poder representar Portugal.
“Não acho justo, e vou continuar a não achar justo, como existem ‘n’ atletas que ainda estão à espera da nacionalidade. Eu tive de esperar 11 anos, não achei justo“, atira.
O campeão olímpico de 2008 diz mesmo que Pichardo teve uma “cunha”. “Desculpem, mas não tenho papas na língua, e não é à toa que o Pichardo está em Portugal. Houve um triplo saltador que fez as coisas que eu fiz e tive de sair de um clube para ser substituído mas Nelson Évora vai ser sempre Nelson Évora”, refere.
“Estive 11 anos em Portugal, não competi por Cabo Verde e Costa do Marfim, e até me sinto envergonhado quando dou de caras com as federações das minhas origens. Até baixo a cabeça. São as minhas raízes mas não quis porque vim para cá com seis anos. Não sei nada sobre Cabo Verde e a Costa do Marfim”, compara.
“Sou melhor que tu. Aceita”
Pedro Pablo Pichardo respondeu rapidamente nas redes sociais, acusando Nélson Évora de o atacar por inveja. “Quando dizes que fui comprado estás a faltar-me ao respeito, não sou uma prostituta nem sou como tu que saíste a mal do clube porque te ofereceram mais. Não sei que problemas tens na cabeça ou se tens problemas com alguém que está no Benfica, mas não deves misturar as coisas e falar de mim”, atira.
“Saí de Cuba pelos problemas que toda a gente sabe, estava na Suécia e o Benfica fez-me uma proposta, como fizeram outros clubes de outros países. Cheguei a Portugal sem saber nada dos teus problemas, simplesmente focado na minha carreira. Até porque tu já eras campeão mas nunca me tinhas ganho, na tua carreira só me ganhaste duas vezes e a tua melhor marca, 17.74, eu salto mais do que isso de leggings compridas e de chapéu. Nunca foste a minha referência como atleta nem como pessoa”, diz ainda o campeão olímpico de Tóquio.
O saltador frisa que esperar 11 anos pela nacionalidade não faz de Nélson Évora “mais português do que ninguém”. “Dizes que não tens nada contra mim, mas sempre que tens uma oportunidade falas do Pichardo. Sempre fiquei no meu cantinho, mas chega de humildade e ficar calado. Podes ter a tua história e ser o Nélson Évora, mas eu também tenho a minha e sou o Pichardo. Quando fores vencedor da Liga Diamante, quando saltares 18 metros e tiveres os meus títulos em um ano, então falamos de campeões. Sou melhor do que tu, aceita. Tu sabes“, remata.
Recorde-se que esta não foi a primeira vez que Nélson Évora criticou o processo de naturalização de Pedro Pablo Pichardo, interpretando a contratação do Benfica como um “ataque pessoal” contra si próprio e uma vingança por ter saído para o Sporting.
“Foi feito por questões clubísticas e com o objectivo de ataque pessoal quando não houve nenhuma má intenção da minha parte na mudança de um clube para o outro. Foi o próprio clube que foi negligente com a minha pessoa. Não sei porque é que deram a volta ao mundo para fazer esta borrada“, afirmou em 2019.
Évora garantiu ainda que a sua indignação não teve a ver com o facto de Pichardo ter batido o seu recorde nacional. “Os recordes nacionais não me dão nada, não me dão privilégio nenhum. A Federação [Portuguesa de Atletismo] paga-nos 35 euros por bater o recorde nacional. Não é por uma questão de dinheiro ou nada parecido. Eu, quando bato o recorde nacional, sinto o meu país e a minha pátria”, explicou.
Durante os Jogos Olímpicos de Tóquio, após Nélson Évora se ter lesionado e ficado fora da final, garantiu que, caso se encontrasse com Pichardo na pista, não o iria cumprimentar. “Não sei porquê, não por mim, mas não teria de ser eu a abraçá-lo. O Pichardo há-de aprender com a vida. Espero que tudo lhe corra muito bem”, disse.
Na altura, Pichardo mostrou-se desconfortável. “Não falo mal do Nélson, não quero levar o assunto para problemas pessoais. Há anos que fala de mim e não respondo. Já ganhou tudo, porque não me deixa a mim fazer a minha carreira?”, disse.