A ditadura de Francisco Franco encomendou em outubro de 1974 uma sondagem para conhecer a opinião dos espanhóis sobre a portuguesa Revolução dos Cravos que classificou de “uso reservado” e que acabou por se manter secreta até 2023.
O relatório de uma sondagem de opinião em Madrid e Barcelona sobre a situação política de Portugal, com a epígrafe “Uso Reservado” na primeira página, viu a luz este ano, quando o Centro de Investigações Sociológicas, CIS, de Espanha decidiu tornar públicos todos os documentos que tinha sob sua tutela.
Estes documentos estavam reservados e, em alguns casos, ignorados, porque “nunca se tinham aberto as caixas em que estavam há muito tempo”, explica à Lusa o presidente do organismo, José Félix Tezanos.
O relatório de 12 páginas, com o título “Sondeo sobre la situacon política de Portugal“, pode agora ser descarregado a partir do site do CIS.
A decisão de divulgar esses documentos surgiu a propósito dos 60 anos de história do CIS, que é o sucessor do Instituto de Opinião Pública fundado em 1963.
A sondagem sobre a Revolução dos Cravos (25 de abril de 1974) foi feita em Madrid e Barcelona, em 8 e 9 de outubro de 1974, uma semana depois da demissão do general António de Spínola da Presidência da República.
O inquérito, com cinco questões, perguntou a 1.102 pessoas se sabiam em que país tinha havido uma revolução em abril, se sentiam simpatia ou antipatia com os acontecimentos em Portugal, se pensavam que a mudança beneficiaria ou prejudicaria o país e se as opiniões em relação à revolução portuguesa tinham mudado após a demissão de Spínola.
“Em geral, são os varões, os jovens, os indivíduos com um nível mais alto de educação e procedentes dos estratos sociais superiores, assim como os habitantes de Barcelona, quem estão melhor informados e também sentem maior simpatia e otimismo em relação às mudanças políticas que se estão a operar em Portugal”, lê-se nas conclusões do relatório da sondagem.
Simpatia e inveja
Numa sociedade, a espanhola, ainda sob ditadura, com censura e limitações à liberdade de imprensa, foram 48% aqueles que disseram saber que tinha havido uma mudança política em Portugal. Dentro destes, a maioria simpatizava com a revolução.
“Havia um elemento de inquietação“, explica José Félix Tezanos, que acrescenta: “Sabia-se que a sociedade espanhola estava a evoluir, que uma parte da sociedade espanhola, alguns meios de comunicação, olhavam para Portugal com simpatia”.
A sondagem foi feita na sequência da demissão de Spínola, provavelmente, por naquele momento haver uma preocupação acrescida, “com a possível deriva da revolução”, que inicialmente se viu como “democrática, europeísta e, num determinado momento, surge a preocupação de se teria outra evolução mais radical”, sugere José Félix Tezanos.
No entanto, acrescenta, “a opinião pública espanhola, de Madrid e de Barcelona, as grandes cidades”, continuava, em outubro de 1974, cinco meses após a revolução, a ver “com simpatia esse movimento de liberdade, até com inveja“.
“Penso que havia uma inveja saudável nesse momento”, diz José Félix Tezanos, nascido em Santander em 1946 e que tem boa memória dessa época, em que muitos espanhóis, como ele, viajaram para Portugal para ver no terreno “o movimento de liberdade” que ali estava em curso.
O relatório acabou por não se publicar e, como outros que se fizeram naquela altura, só os membros do Governo do general Franco tiveram acesso ao documento.
A conclusão “claríssima” da sondagem, segundo Tezanos, poderá ter preocupado os governantes espanhóis.
Mas é provável que, em 1974, quando Franco estava já no final da vida, e após décadas de ditadura, não fosse assim para todos, porque o regime espanhol daquela época já tinha no seu interior os designados reformistas, que acabaram por estar entre os protagonistas da transição de Espanha para a democracia.
“O que vemos é jovens, idades intermédias, com estudos superiores, nas cidades de Madrid e Barcelona, a parte mais dinâmica da sociedade espanhola“, a simpatizar com a revolução portuguesa, que acabava de forma pacífica com uma ditadura, e possivelmente os reformistas do regime, “não viam isto com preocupação”, afirma.
“Na verdade, eu penso que isto teve influência ulteriormente, na forma de encarar a transição democrática [espanhola], que foi muito alentada por pessoas que vinham do regime”, defende.
José Félix Tezanos lembra, a este propósito, o “dado curioso” de ser “a partir desse momento” que em Espanha se pedem estudos a constitucionalistas para perceber se seria possível, “a partir das leis do regime, evoluir para uma democracia”.
“Vários estudos confirmaram que sim” e, em 1978, Espanha teve uma nova Constituição que reinstaurou a democracia no país, também neste caso, de forma pacífica.
O Regime de Franco, ou Ditadura Franquista, foi instituído a 1 de outubro de 1936 por Francisco Franco e pelo Comité de Defesa Nacional, uma facção do exército espanhol que se revoltou contra a República, tendo vigorado até à morte do ditador espanhol, em 1975.
A ditadura franquista foi criticada pela comunidade internacional, incluindo o Parlamento Europeu, que em 2006 considerou haver evidências suficientes para provar a violação dos direitos humanos durante este período.
A ideologia e simbologia franquista sobreviveram no entanto até à atualidade. Os mais nostálgicos do regime franquista concentravam-se anualmente, no dia 20 de Novembro (dia da morte de Franco) no Valle de los Caídos.
A lei da Memória Histórica, aprovada em 2007, proíbe esta manifestação.
ZAP // Lusa
Não houve nenhuma «…Revolução…» em 25 de Abril de 1974, mas sim um golpe de Estado levado a cabo pela OTAN ao que se seguiu o «Processo Revolucionário em Curso» dirigido por Henry Kissinger e Frank Carlucci.
—e executada por um conjunto de militares comunista!
Kissinger quando alertado que Portugal se desviava para o Comunismo, via Carlluci,
disse: « até é bom que isso aconteça». «Servir-lhes-à de Vacina ».
Portanto Kissinger não apoiou o PREC,!
E assim, temos o povo mais estupido do planeta terra!!!
Cravos??? Sem derramar sangue???
Aqui na aldeia houve pelo menos 5 mortos… tinha apenas 5 anos, mas vi 3 “in loco”… agora parece um filme, tal como os livros de Economia Contemporânea, que ainda guardo… tudo mudou!!!
Não foram Cravos mas sim, “espinhos de rosa”!!!
Sou revoltado por natureza… porque será???
Foi mais uma abrilada para tudo voltar ao mesmo, cinquenta anos depois. Mil anos de história comprovam os fatos.
O comentário , com meu nome , acima escrito, Não é de minha autoria.
Nessa data eu tinha 32 anos . Não 3 anoas…
Antonio