Há um segredo por trás do melhor som para se usar como despertador — e a ciência já o desvendou

Um equipa de cientistas estudou a receita para a criação do alarme perfeito e que nos deixe logo alerta ao acordar, incluindo a frequência, a melodia e o volume.

Com o regresso do trabalho nos escritórios — e sem podermos rebolar da cama imediatamente para uma reunião no Zoom — muitos de nós vamos estar a acordar mais cedo para evitarmos a hora de ponta. Por isso, é importante usarmos os melhores alarmes.

Mas que tipo de alarme nos deixa alerta logo ao acordar? Pitágoras fez esta pergunta  por volta de 500 A.C. e acreditava que músicas específicas — melodias que despertam as energias — tinham a capacidade de combater a sonolência que temos ao acordar.

E parece que ele tinha razão. Uma investigação mostrou que certos sons de alarme podem melhorar o nosso estado de alerta quando acordamos.

Em particular, alarmes que estejam em sintonia (como a “ABC” dos The Jackson 5) têm melodias que dão energia ao ouvinte e são boas para termos um despertar eficaz. Mas percebermos porquê, temos primeiro que entender como os nossos cérebros respondem a estímulos complexos quando saem do estado de sono.

Acordar bem é importante

Acordar cambaleante nunca sabe bem. E como nós acordamos não afeta apenas o nosso humor e a perspetiva do dia, mas também a nossa cognição e a performance mental.

Em algumas instâncias, a sonolência depois de acordarmos tem o potencial de ser perigosa várias horas depois, ao reduzir a nossa capacidade de tomar decisões (como em situações de saúde, respostas de emergência, segurança ou enquanto conduzimos).

O estado cognitivo alerta reduzido é conhecido como “inércia do sono”. É uma preocupação cada vez maior porque pode ter consequências sérias enquanto fazemos tarefas de alto risco, como conduzir.

Como é que o cérebro acorda?

A transição do sono não é um sistema de ligar e desligar, como os scans dos cérebros já mostraram. Acordar depende de processos biológicos complexos, como o aumento do fluxo de sangue para o sangue.

Estudos mostram que as regiões cerebrais mais importantes para se estar alerta demoram mais a acordar do que outras. Isto significa que podemos estar acordados, mas não estamos alerta.

As investigações também mostraram que a atividade do fluxo sanguíneo diminui depois de se acordar, em comparação com estado antes de dormir. Por isto, estar alerta exige mecanismos que encorajam a redistribuição do fluxo sanguíneo para o cérebro — algo que alguns tipos de sons e música podem fazer.

Outro fator que influencia o estado de alerta a acordar é a fase do sono na altura. É menos provável que fiquemos sonolentos ao acordarmos de um sono leve, em comparação com um sono mais pesado ou na fase REM.

A eficácia do alarme também depende na idade. Jovens adultos entre os 18 e 25 anos precisam de alarmes mais altos do que pessoas mais velhas, e os pré-adolescentes precisam de um despertador ainda mais alto. Podemos precisar de um alarme até 20 decibéis mais alto aos 18 anos do que aos 80.

A frequência do som e a melodia são importantes?

Um número cada vez maior de provas sugere que alarmes diferentes podem influenciar positivamente a performance humana depois de acordar. A nossa pesquisa sistemática publicada em 2020 mostrou que as frequências temporais (o tom do som medido em Hertz) em torno de 500 Hz são melhores a acordar as crianças pequenas do que as variedades de mais de 2000 Hz.

Faltam pesquisas sobre se isto também se aplica aos adultos, mas assume-se que o mesmo tipo de despertadores seria benéfico. As gravações de uma pessoa a gritar “acorda!” funcionam melhor do que frequências mais altas. No entanto, não são eficazes como alarmes que apitam a 500 Hz.

Também concluímos que a forma como as pessoas interpretam a melodia dos alarmes também reflete quão sonolentos nos sentimos. Aqui, as pessoas que usam alarmes melodiosos vão murmurar a melodia e sentir-se menos sonolentos do que os que preferem um alarme que apita.

Com isto em mente, desenvolvemos uma melodia rítmica personalizada que levou a uma performance significativamente melhor quando e depois de se acordar. Outros estudos já mostraram que a música popular (que pode ser interpretada como sendo melódica) é boa para combater a inércia do sono depois de uma pequena sesta e que é ainda melhor se for música de que o ouvinte gosta.

O que posso fazer para melhorar o meu alarme?

Dado o resto, acreditamos que o alarme perfeito deve ter uma melodia que pode facilmente murmurar, ter uma frequência dominante à volta dos 500 Hz e não ser demasiado rápido ou demasiado lento (entre 100 e 120 batidas por minuto é o ideal.

Se pensarmos nos alarmes por defeito nos nossos dispositivos, é preciso muito mais trabalho — especialmente visto que a pesquisa nesta área ainda é relativamente nova.

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