O Sol causa stress nos asteroides (que envelhecem mais depressa)

NASA/Goddard/Universidade do Arizona

Fissuras provocadas pelo envelhecimento do Sol nos asteróides

Os cientistas da missão OSIRIS-REx da NASA aprenderam recentemente que a regeneração da superfície ocorre muito mais rapidamente nos asteroides do que na Terra.

Ao analisar as fraturas rochosas no asteroide Bennu a partir de imagens de alta resolução obtidas pela nave espacial OSIRIS-REx, a equipa descobriu que o calor do Sol fratura rochas em Bennu em apenas 10.000 a 100.000 anos.

Esta informação vai ajudar os astrónomos a estimar quanto tempo as rochas levam, em asteroides como Bennu, a decompor-se em partículas mais pequenas, que podem ser ejetadas para o espaço ou permanecer na superfície do asteroide.

Dezenas de milhares de anos podem parecer muito tempo, mas “pensámos que a regeneração da superfície dos asteroides levava alguns milhões de anos”, disse Marco Delbo, cientista sénior da Université Côte d’Azur, CNRS, do Observatoire de la Côte d’Azur, Laboratoire Lagrange, Nice, França, e autor principal de um artigo científico publicado em junho de 2022 na revista Nature Geoscience.

“Ficámos surpreendidos ao saber que o processo de envelhecimento e meteorologia dos asteroides acontece tão rapidamente, em termos geológicos“.

Embora deslizamentos de terra, vulcões e terramotos possam mudar a superfície da Terra rapidamente, normalmente as mudanças são graduais. A água, o vento e as mudanças de temperatura decompõem lentamente as camadas rochosas, criando novas superfícies ao longo de milhões de anos.

Por exemplo, se estivéssemos no famoso Grand Canyon, veríamos camadas rochosas distintas; as camadas superiores tendem a ser mais jovens, com cerca de 270 milhões de anos, e as camadas na base do desfiladeiro são as mais antigas, com cerca de 1,8 mil milhões de anos. O rio Colorado tem vindo a esculpir rochas no Grand Canyon há 5 ou 6 milhões de anos.

As rápidas mudanças de temperatura em Bennu criam stress interno que fraturam e quebram rochas, semelhante ao modo como um vidro frio se parte debaixo de água quente. O Sol nasce a cada 4,3 horas em Bennu. No equador, as máximas diurnas podem atingir quase 127º C, e as mínimas noturnas caem para cerca de -23º C.

Os cientistas da OSIRIS-REx detetaram fissuras nas rochas em imagens de naves espaciais a partir dos primeiros levantamentos do asteroide. As fraturas pareciam apontar na mesma direção, “uma assinatura distinta de que os choques de temperatura entre o dia e a noite poderiam ser a causa”, disse Delbo.

Delbo e colegas mediram à mão o comprimento e os ângulos de mais de 1500 fraturas em imagens da OSIRIS-REx: algumas mais pequenas do que uma raquete de ténis, outras mais longas do que um campo de ténis.

Descobriram que as fraturas estão predominantemente alinhadas na direção noroeste-sudeste, indicando que foram provocadas pelo Sol, que se mostra aqui como sendo a força primária a mudar a paisagem de Bennu.

“Se os deslizamentos de terra ou impactos se deslocassem mais rapidamente do que as rochas se partissem, as fraturas apontariam em direções aleatórias”, disse Delbo.

Os cientistas utilizaram um modelo de computador e as suas medições de fraturas para calcular o período de 10.000 a 100.000 anos para que as fraturas térmicas se propaguem e partirem rochas.

“As fraturas térmicas em Bennu são bastante semelhantes ao que encontramos na Terra e em Marte em termos da sua formação”, disse Christophe Matonti, coautor do artigo na Université Côte d’Azur, CNRS, Observatoire de la Côte d’Azur, Géoazur, Sophia-Antipolis, Valbonne, França.

“É fascinante ver que podem existir e são semelhantes em condições físicas muito ‘exóticas’ [baixa gravidade, sem atmosfera], mesmo em comparação com Marte”.

“Há que ter em mente que a topografia de Bennu é jovem, mas as rochas nos asteroides ainda têm milhares de milhões de anos e contêm informações valiosas sobre o início do Sistema Solar”, disse Jason Dworkin, cientistas do projeto OSIRIS-REx no Centro de Voo Espacial Goddard da NASA em Greenbelt, no estado norte-americano de Maryland.

A OSIRIS-REx (Origins, Spectral Interpretation, Resource Identification, Security-Regolith Explorer) está a caminho de enviar uma amostra de Bennu à Terra, com data de chegada prevista para 24 de setembro de 2023.

“Poderemos aprender mais detalhes sobre a idade da superfície quando formos capazes de estudar diretamente a amostra”, disse Dworkin.

// CCVAlg

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