Um sistema de conservação de água, utilizado há mais de mil anos pela população indígena no Peru, poderá ser a solução para combater a falta de água durante as severas estações secas que o país enfrenta.
De acordo com o Science Alert, os investigadores estimam que esta técnica, utilizada pelo povo indígena da região, tem cerca de 1.400 anos e consiste em desviar a água dos regos para as encostas das montanhas quando a água da chuva é abundante, originando fontes naturais que mantêm a água armazenada durante um longo período de tempo depois da estação das chuvas terminar.
“A população de Lima está a viver uma das situações hídricas menos estáveis do mundo”, afirma o engenheiro ambiental Wouter Buytaert, do Imperial College London, no Reino Unido. “Há muita água nas estações chuvosas e muito pouca nas secas. Os povos indígenas sabiam como contornar isto, por isso estamos a procurar as respostas neles”.
Os investigadores, cujo estudo foi publicado na revista científica Nature Sustainability, visitaram Huamantanga para estudar um dos poucos exemplos ainda existentes deste sistema e onde os canais, chamados de “amunas” na língua quíchua, foram recuperados.
Durante dois anos, com o apoio da população local, a equipa descobriu que a água redirecionada leva entre duas semanas e oito meses para percorrer o seu curso a jusante – uma média de 45 dias.
Adaptar este processo para a capital peruana não será fácil mas poderá significar cerca de 35% da água da estação chuvosa (cerca de 99 milhões de metros cúbicos) economizada para os meses seguintes.
Os investigadores estimam que a quantidade de água disponível durante a estação seca poderia ser aumentada em até 33% nos primeiros meses e em cerca de 7,5% nos meses seguintes.
No entanto, a pesquisa sugere que os métodos tradicionais deveriam ser usados em combinação com abordagens mais modernas para maximizar a quantidade de água que poderia ser economizada durante os períodos de abundância – e para agir como um “seguro” num clima que está em constante mudança não só pelas alterações climáticas mas também pela ação humana.
“Com o advento da ciência moderna, é interessante imaginar como os métodos antigos se podem aplicar aos problemas modernos”, diz o hidrólogo Boris Ochoa-Tocachi. “Contudo, parece que ainda temos muito a aprender com as habilidades criativas de resolução de problemas dos nossos ancestrais”, conclui.