O coordenador do projeto Médicos Sem Fronteiras na Síria diz que muitas famílias estão a ser forçadas a vender os seus bens pessoais para que os filhos possam comer.
Bombardeamentos aéreos na Síria são uma constante. Ainda esta terça-feira, um ataque russo matou 18 pessoas em Aleppo e em Idlib. No meio de todo o caos, muitos sírios viram-se obrigados a deslocarem-se para acampamentos longe das suas casas.
Muitos deles encontram paz em algo tão banal como o clima, mas há uma razão lógica para isso. “Temos este tipo de situação agora, onde, hoje as pessoas em Idlib, ou pelo menos as com quem conversamos, referem-se sempre ao clima como o seu principal aliado”, disse Christian Reynders, coordenador do projeto Médicos Sem Fronteiras na Síria, à Newsweek.
É assim que os sírios conseguem prever se há ou não risco de bombardeamento naquele dia. Se o céu estiver pouco nublado, é um mau sinal, mas o céu estiver nublado, significa que provavelmente as condições não são as ideais para que haja um ataque.
“Este é o principal aliado deles, é algo que não é humano. É o clima”, disse Reynders, explicando que as pessoas começaram a perder a fé no apoio da comunidade internacional.
Os desalojados na Síria reúnem-se em acampamentos sobrelotados. “Eles não têm para onde ir. Não podem ir para leste, não podem ir para oeste, não podem ir para o norte e não podem ir para o sul”, realçou Reynders.
Nestas condições, a principal prioridade de muitas famílias é assegurar que os seus filhos têm comida.
“Eles são constantemente forçados a fazer escolhas, mas escolhas como: ‘Eu vou escolher dormir no colchão, mas com o estômago vazio? Ou vou vender o colchão, mas dormir no cascalho, mas talvez consiga comprar alguma comida, talvez não para mim, mas para os meus filhos?’. Essas são as escolhas constantes que estão a ser feitas hoje”, explicou o belga.
Para Reynders, isto é algo que os sírios não deveriam ser obrigados a escolher, mas salienta que os Médicos Sem Fronteiras estão a fazer tudo ao seu alcance para ajudar este povo. “Não é tarde demais. Mesmo após mais de oito anos, não é tarde demais”, atirou.