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Síndrome K. Uma doença inventada salvou dezenas de judeus perseguidos pelos nazis

Nos dias sombrios da Itália ocupada pelos nazis, casos de uma doença misteriosa e mortal, conhecida como “Síndrome K”, foram documentados num hospital de Roma em frente ao gueto judeu. O que os nazis não sabiam é que era inventada.

No outono de 1943, o regime fascista de Mussolini tinha caído, deixando o novo governo italiano declarar guerra ao seu ex-parceiro, a Alemanha nazi, e juntar-se aos Aliados. No entanto, o norte do país e a sua capital, Roma, permaneceram dominados pela ocupação nazi com o nome de República Social Italiana.

O antissemitismo borbulhava em todo o país desde que Mussolini assumiu o poder na década de 1920, mas a situação azedou após a ocupação da Alemanha em 1943. Nessa época, os nazis já controlavam grande parte da Europa continental e os horrores do Holocausto estavam em pleno andamento.

Em 16 de outubro de 1943, os nazis começaram os seus ataques à comunidade judaica de Roma e começaram a deportar centenas de pessoas para o campo de concentração de Auschwitz, na Polónia.

Em desespero, várias famílias procuraram refúgio no hospital Fatebenefratelli à frente do gueto judeu gueto na Ilha Tiberina, em Roma, conta o IFL Science.

O professor Giovanni Borromeo, o médico Vittorio Sacerdoti e vários membros da equipe médica do hospital traçaram um plano para ajudar as famílias judaicas: começaram a internar pessoas no hospital mesmo que não estivessem doentes e escreveram nos seus registos que estavam a sofrer de uma doença fictícia conhecida como “il morbo di K” e “síndrome K” – palavra italiana para “Síndrome K.”

O “K” referia-se a Herbert Kappler, o chefe da polícia nazi em Roma que liderou as detenções judaicas, e Albert Kesselring, o general-marechal de campo encarregue de defender a Itália contra as forças aliadas – ambos condenados por crimes de guerra.

Não só a “síndrome K” foi usada com código no hospital para reconhecer quem não estava doente e apenas a refugiar-se, como também assustou os nazis, uma vez que evocava memórias da doença de Koch – outro termo para tuberculose.

Houve algumas recontagens desta história, cada uma com detalhes variados que foram confundidos ao longo das décadas. No entanto, a história da “Síndrome K” foi compilada a partir de vários depoimentos de pessoas da época.

Adriano Ossicini, um partidário antifascista que se tornou Ministro da Saúde de Itália na década de 1990, falou sobre o assunto num depoimento que relembrava a “invasão do Gueto de Roma” em 16 de outubro de 1943. Sacerdoti também testemunhou a história na Universidade do Shoah Foundation Institute.

Uma das fontes mais confiáveis ​​é o relato de Borromeo no Yad Vashem, o memorial oficial de Israel às vítimas do Holocausto, que também fala de numerosas famílias e indivíduos que foram salvos graças ao hospital Fatebenefratelli e à “síndrome K”.

Não é claro quantas pessoas devem as suas vidas à “Síndrome K”, uma vez que a maioria das estimativas varia de dezenas a centenas. No entanto, o papel do hospital Fatebenefratelli e a engenhosidade dos seus médicos foram, desde então, reconhecidos pelos seus bravos esforços contra os horrores do nazismo.

No pátio em frente ao hospital, a International Raoul Wallenberg Foundation colocou uma placa onde se lê: “Este lugar foi um farol na escuridão do Holocausto. É nosso dever moral lembrar estes grandes heróis para que as novas gerações os reconheçam e apreciem”.

ZAP //

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