A síndrome do coração partido é cada vez mais frequente — e não, não são os desgostos amorosos a causá-la

Hayley Bouchard / Flickr

Diagnósticos da síndrome do coração partido, também conhecida como síndrome Takotsubo, têm vindo a crescer face a uma maior consciêncialização dos médicos para a patologia, mas sobretudo devido ao maior stress a que os seres humanos estão sujeitos. 

O coração partido é um conceito frequentemente associado aos momentos que se seguem a um desgosto amoroso — provocado pelo fim de uma relação, pela morte de uma pessoa próxima ou por uma notícia negativa que nos abala particularmente.

Ao longo dos últimos anos, a ciência tem se esforçado precisamente por estudar uma patologia cujo nome pela qual é conhecida é semelhante, apesar de não haver uma relação direta (na maioria dos casos).

Trata-se da síndrome do coração partido, a qual tem vindo a aumentar desde 2006. De acordo com investigações recentes esta patologia tem associadas a miocardiopatia Takotsubo, a qual constitui apenas 2% dos casos suspeitos de ataques cardíacos.

Assim sendo, a pergunta impõem-se: poderá, de alguma forma, a síndrome do coração partido estar de alguma forma associada às emoções? De acordo com a revista Forbes, a síndrome do coração partido acontece quando uma dor do coração figurativa se transforma numa dor do coração literal.

Por outras palavras (científicas), a síndrome Takotsubo pode acontecer quando um tipo de stress emocional faz com que o corpo humano lance adrenalina e outras hormonas. Isto pode ser originado, como referido anteriormente a propósito dos desgostos, pela perda de um familiar próximo, pelo assédio no trabalho ou outro motivo qualquer, o qual também pode ser positivo. Na mesma linha, pode ser também motivada por stress físico, provocado por um ataque de asma, uma infeção ou outro.

O consequente resultado hormonal pode sobre-estimular ou subjugar os músculos do coração. A estimulação excessiva do coração, explica a mesma fonte, pode resultar com que os músculos saltem e funcionem de forma errada.

Isto irá originar sintomas como dores de peito, falta de ar, transpirações ou vertigens — todas queixas que podem ser facilmente confundidas com sintomas de ataque cardíaco, pelo que é provável que quem as tenha acabe nas urgências com esse diagnóstico.

Ainda assim, em oposição aos ataques cardíacos, a cardiomiopatia não resulta de ou causa danos permanentes. O tratamento que se segue implica gerir o stress e manter a pressão arterial e o ritmo cardíaco baixos para que o coração não tenha que trabalhar por si tão arduamente. Com estes cuidados, o coração “irá continuar” a funcionar com relativa normalidade.

Alguns casos, contudo, podem progredir para situações clínicas mais graves, tais como insuficiência cardíaca congestiva, ritmos cardíacos anormais (que podem levar a um AVC) e até à morte.

Para desenvolver um estudo científico sobre o tema, duas equipas do Cedars-Sinai Medical Center, em Los Angeles, e da University if Southern California examinaram informações relativas a uma amostra constituída por pacientes que deram entrada nos hospitais — através de uma base de dados norte-americana conhecida como NIS (National Inpatient Sample).

Na amostra, com dados relativos a 2006 e a 2017, os investigadores encontraram 135,463 documentos com referências a casos de TTS. Deste, 88.3% foram diagnosticados entre mulheres.

Durante a década em análise, o número de diagnósticos por um milhão de hospitalizações por ano aumentaram nos homens e mulheres entre os três grupos estudados: menos de 50 anos, intervalo entre 50 e os 74 anos e maiores de 75 anos.

O maior salto aconteceu entre as mulheres com idades compreendidas entre os 50 e os 74 anos — uma subida de 128 casos por milhão de pessoas por ano —, seguido de homens igualmente com idades compreendidas entre os 50 e os 74 anos e de homens com 75 anos ou mais.

Como se explica esta subida? De acordo com os especialistas, em grande parte devido a uma maior consciencialização em relação ao diagnóstico, já que os médicos não têm por hábito atribuir muitos dos sintomas descritos pelos pacientes à síndrome do TTS.

Esta não tem muito reconhecimento junto da comunidade científica, com o primeiro estudo académico sobre o tema a surgir apenas em 2005 — como tal, é possível que muitos casos de TTS tenham sido atribuídos a outra causa qualquer.

Ainda assim, é mesmo possível que ao longo dos últimos anos se tenha registado um aumento na incidência de TTS, a qual pode estar relacionada com um constante crescimento do stress emocional e uma constante diminuição da capacidade humana em lidar com ele.

Para a comunidade científica, esta não é uma constatação surpreendente, já que muitos indicadores relacionados com a saúde mental têm evoluído numa má direção desde o início da década de 1980.

Já para o facto de as mulheres serem as principais atingidas pela doença, a primeira opção que surge é a mesma que é evocada em muitas outras situações em que a diferença de género é desproporcional: as hormonas.

No entanto, não é possível aferir até que ponto as hormonas são um fator verdadeiramente preponderante na síndrome de TTS, sendo precisos mais estudos para se chegar a uma conclusão clara.

Mesmo perante o aumento de casos ao longo dos últimos anos, os cientistas ressalvam que o diagnóstico da síndrome de TTS está longe de ser algo comum ou frequente, pelo o que pode estar realmente em causa é um fenómeno social menos percetível a olho nu.

Afinal de contas, todos os seres humanos, sobretudo à luz da sociedade de hoje, sofrem ou vão sofrer de stress.

ZAP //

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