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Silêncio de Moçambique alimenta suspeitas em torno da morte de empresário português

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Robert Talenti / USAF

Centro da cidade da Beira, no norte de Moçambique, em 2000.

Moçambique quebrou, finalmente, um longo e estranho silêncio sobre o caso do empresário português Américo Sebastião, desaparecido há 19 meses, mas para dizer que não sabe nada sobre o assunto. O mistério alimenta as suspeitas de que o homem de 49 anos tenha sido vítima de um crime político.

Américo Sebastião, que vivia na Beira, no centro do Moçambique, desde 2001, terá sido raptado numa bomba de gasolina daquela localidade. Desde então, nunca mais foi visto, nem qualquer pedido de resgate foi feito, ou sequer o seu corpo encontrado.

As autoridades de Moçambique têm mantido um silêncio “demasiado estranho” sobre o caso, conforme avança o Público, frisando que se têm recusado a dar quaisquer informações ou a cooperar com a Polícia Judiciária portuguesa. Nem sequer responderam a cartas do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, ou do primeiro-ministro António Costa.

Na passada sexta-feira, surgiu, finalmente, “a primeira declaração pública sobre o caso”, mas para dizer simplesmente que “até ao momento o cidadão português não foi localizado”, e que nem “foi achado qualquer corpo com as suas características”.

Esta postura, e este silêncio ensurdecedor, reforça a tese daqueles que acreditam que Américo Sebastião foi assassinado por motivações políticas.

O Público nota que uma das teorias aponta que o empresário terá sido executado pelos esquadrões da morte que integram elementos das forças de segurança moçambicanas e que actuarão sob as ordens das principais autoridades do país – embora, oficialmente, a sua existência não seja sequer reconhecida.

Há testemunhas que alegam que Américo Sebastião foi raptado por elementos que usavam as fardas da Unidade de Intervenção Rápida de Moçambique e uma carrinha idêntica à que é usada pelas forças da autoridade.

Esta teoria assenta na ideia de que o homem de 49 anos terá sido executado por “ordens que vieram de cima”, por se ter tornado “incómodo” para a Frelimo (Frente de Libertação de Moçambique) que está no poder há 43 anos, ou seja, desde a independência do país.

Um momento que pode ter despoletado esse eventual móbil político reporta-se à altura em que o empresário deu boleia a um grupo de jornalistas, sem saber quem eram, levando-os ao local de uma vala comum encontrada na região onde trabalhava.

Essa vala comum é citada no relatório de 2016 da organização de direitos humanos Human Rights Watch, onde se menciona a existência em Moçambique, de várias mortes “em ataques com aparente motivação política“. O documento atesta que a vala teria “pelo menos 15 corpos não identificados por baixo de uma ponte”, cita o Público.

“Mostrar a vala pode justificar uma punição exemplar” das autoridades no poder, refere ao jornal um especialista em política africana, acrescentando que “em Moçambique a cultura interna é de eliminação”.

Um roubo ou uma vingança

Outra possibilidade para explicar o desaparecimento aponta para um crime comum, motivado pela intenção de roubo, já que o seu cartão de crédito foi usado várias vezes, para fazer levantamentos, até se esgotar o dinheiro. Todavia, estes levantamentos envolvem contornos estranhos e há quem note que isto pode ter sido simplesmente uma forma de “mascarar” o crime político.

Há ainda a suspeita de que tenha sido assassinado no âmbito de uma “rivalidade relacionada com a concessão do corte de madeira“, actividade a que se dedicava, com sócios portugueses e moçambicanos. O empresário terá chegado a ser ameaçado de morte por um vizinho madeireiro.

Enquanto o mistério permanece e a família continua a tentar saber o que aconteceu a Américo Sebastião, que tem mulher e dois filhos em Portugal, o gabinete do ministro dos Negócios Estrangeiros português assegura que “está em permanente contacto, a todos os níveis possíveis (Governo, embaixada, autoridades competentes na área da Justiça e Segurança Interna), com Moçambique, oferecendo toda a colaboração necessária”.

ZAP //

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