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Pó branco em Paio Pires. Siderurgia diz que não houve anomalias

nmorao / Flickr

Câmara do Seixal relaciona problemas na qualidade do ar com a atividade da Siderurgia Nacional

Apesar de confirmar ter recebido várias reclamações sobre o pó branco que caiu em Paio Pires, a Siderurgia Nacional diz que “não foram detetadas quaisquer situações anómalas” que possam ser associadas ao acidente.

Segundo as contas da Zero, só em janeiro, o medidor de partículas inaláveis na Aldeia de Paio Pires, no Seixal, ultrapassou durante 13 dias o valor-limite de proteção da saúde humana.

O Público avançou na terça-feira que o Ministério Público está a investigar as amostras de pó branco e poluição em automóveis e edifícios na Aldeia de Paio Pires, as quais foram encaminhadas para a Agência Portuguesa do Ambiente.

Nas redes sociais são vários os vídeos e fotografias com imagens de partículas, sobretudo em veículos e habitações, com os munícipes a alegarem que o material é proveniente da Siderurgia Nacional.

Em comunicado, a associação adiantou que os dados “coligidos pela Zero a partir do site de divulgação de qualidade do ar da APA (ainda não validados) mostram que entre 1 e 28 de janeiro, na estação de Paio Pires, verificaram-se 13 dias, quase metade do período analisado, acima do valor-limite diário de partículas inaláveis de 50 microgramas por metro cúbico (ug/m3), com um máximo horário de 171 ug/m3 e uma média de 51 ug/m3”.

A Zero lembra que a legislação não permite mais de 35 dias por ano de ultrapassagem aos valores-limite diários e a média anual não pode ultrapassar 40 ug/m3.

A associação destaca que “esta é uma situação única, dado que nalguns outros locais do país se verificaram também ultrapassagens do valor-limite diário de partículas, mas em número menos elevado, relacionadas com um outro problema preocupante, mas mais facilmente identificável que é a queima de biomassa em lareiras”.

No entendimento da Zero, os dados mostram “uma situação preocupante que reforça as queixas sistemáticas que nos últimos dias têm sido reforçadas pela população de Paio Pires que tem sido fortemente afetada”. Além disso, as condições meteorológicas das últimas semanas, com vento fraco e temperaturas baixas deverão também ter sido decisivas para uma maior concentração dos poluentes.

No comunicado, a Zero chama também a atenção para o sistemático atraso na aplicação dos Planos de Melhoria da Qualidade do Ar na região de Lisboa e Vale do Tejo, que identificou como áreas problemáticas o centro de Lisboa e a situação em redor da Siderurgia Nacional em Paio Pires, devido à sistemática ultrapassagem dos valores-limite de partículas inaláveis.

A Zero salienta também que a única estação de monitorização de qualidade do ar existente em Paio Pires poderá não refletir na totalidade os impactes na qualidade do ar com origem na atividade da Siderurgia Nacional, uma vez que as populações mais afetadas não se encontram nas imediações dessa estação.

A associação chama também a atenção para o facto de não se realizarem análises aos metais pesados presentes nas partículas.

O presidente da Câmara do Seixal, Joaquim Santos, esteve reunido na terça-feira com o Ministro do Ambiente, João Pedro Matos Fernandes, tendo defendido a “necessidade urgente” de resolver os impactos ambientais provocados pela laboração da Siderurgia Nacional no concelho.

“Está em curso desde setembro de 2018 um estudo epidemiológico, que terá a duração de sete meses, e que conta com o apoio de várias entidades, entre as quais a Universidade Nova de Lisboa e o Instituto Ricardo Jorge”, afirmou Joaquim Santos, citado em comunicado da câmara enviado à Lusa.

Siderurgia diz que não houve anomalias

Ao Público, a SN-Seixal reconhece ter recebido várias reclamações sobre o pó branco, que originaram uma “análise interna”. Estas reclamações motivaram ainda uma vistoria da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional de Lisboa e Vale do Tejo (CCDR-LVT), encarregada de gerir e avaliar a qualidade do ar naquela zona.

Não foram detetadas quaisquer situações anómalas na empresa que conseguíssemos associar como causa para incidente indicado. Não foi também identificada qualquer anomalia ao nível do sistema de tratamento de gases e poeiras, nem qualquer alteração de métodos de trabalho ou de aplicação de mitigação de emissões difusas”, acrescenta fonte oficial da empresa.

Apesar disso, a empresa adianta que foram reforçadas a “inspeção diária” e a “vigilância” e paralisadas “todas as movimentações de resíduos e matérias-primas, expecto as estritamente necessárias para manter os mínimos de operação da instalação”.

Sobre as medidas de proteção ambiental, a Siderurgia Nacional afirma cumprir a legislação aplicável, monitorizando e realizando “análises periódicas nas suas fontes de emissão, de acordo com as orientações emitidas pelas autoridades ambientais e não só”, que não detalha.

A empresa afirma ainda submeter-se a auditorias ambientais periódicas, conduzidas por “entidades externas e independentes”.

ZAP // Lusa

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