Transplante de sangue do cordão umbilical: “O facto de esta pessoa ser mestiça e ser mulher é muito importante”.
Uma equipa de cientistas e investigadores em Denver, Colorado (Estados Unidos da América) anunciou nesta terça-feira que curou uma mulher que tinha o Vírus da Imunodeficiência Humana (VIH), que origina a SIDA.
Até este anúncio já tinham sido divulgados dois casos de cura do vírus da SIDA. O primeiro caso foi o de Timothy Ray Brown, em 2007, graças a um transplante de medula óssea; Timothy acabou por morrer em 2020, devido a um cancro. O segundo caso foi o de Adam Castillejo, em 2016, igualmente depois de um transplante de medula óssea. O vírus desapareceu, mas os dois homens ficaram com efeitos colaterais graves.
Agora foi apresentado o caso de uma mulher, cujo nome e cuja idade não foram revelados, para já. Soube que era portador do VIH em 2013. A medicação foi mantendo os níveis de vírus em baixo. Em 2017, foi diagnosticada com leucemia mielóide aguda.
Neste processo não houve transplante de medula óssea. O método inovador foi um transplante de sangue do cordão umbilical de um dador parcialmente compatível – o que dá esperança para a cura de muitas pessoas, de etnias diferentes.
Os transplantes de medula óssea “obrigam” a que as células estaminais adultas sejam provenientes de uma pessoa com etnia semelhante ao paciente. Neste novo o processo o leque de opções será muito maior porque não há essa “necessidade” de relação étnica.
Além disso, um transplante de medula óssea pode originar consequências graves – tal como aconteceu com Timothy Ray Brown e com Adam Castillejo – porque é uma intervenção muito invasiva e arriscada.
Neste caso, e 14 meses depois do transplante, não há relato de qualquer efeito colateral grave. Nem há indícios de que o VIH continua no sangue da paciente, e não parece ter anticorpos detectáveis para o vírus.
A mulher recebeu ainda sangue de um parente próximo, para o seu corpo ter defesas imunológicas temporárias, enquanto o transplante acontecia. Saiu do hospital 17 dias depois da intervenção.
“O facto de ela ser mestiça e ser mulher é muito importante cientificamente e muito importante em termos de impacto na comunidade”, comentou o especialista Steven Deeks, citado pelo jornal The New York Times.
A maioria dos casos de VIH surge em mulheres, mas o sexo feminino entra em apenas 11% dos ensaios de cura.
Quase 38 milhões de pessoas vivem com SIDA. Há medicamentos que “suavizam” os efeitos do vírus, mas continua a não haver uma cura generalizada e eficaz.