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Sheriff, o clube que representa um país que oficialmente não existe, faz história na Champions

Na sua estreia absoluta na Liga dos Campeões, o Sheriff Tiraspol venceu o Shakhtar por 2-0. O clube representa um país que, oficialmente, não exista: a Transnístria.

Sheriff Tiraspol foi fundado em 1997 por antigos membros da KGB e, este ano, está pela primeira vez na Liga dos Campeões. O modesto clube representa um país que, oficialmente, não existe: a Transnístria. O estado auto-proclamado não é internacionalmente reconhecido, mas tem bandeira, moeda e governo próprios.

Esta quarta-feira, o clube que atua na liga moldava não podia ter tido uma estreia melhor, após vencer o Shakhtar Donetsk por 2-0. Os golos foram marcados por Adama Traoré, aos 16 minutos, e por Momo Yansane, aos 62′.

A vitória frente aos ucranianos é apenas mais um capítulo da longa história que tem sido o seu percurso esta temporada. O Sheriff desafiou as probabilidades, superando Teuta (Albânia), Alaskhert (Arménia), Estrela Vermelha (Sérvia) e Dínamo Zagreb (Croácia) para conseguir marcar presença nesta edição da liga milionária.

Segundo o portal Transfermarkt, a equipa está avaliada apenas em 11,68 milhões de euros — menos de metade da segunda equipa com a pior cotação, o Malmo (25,93 milhões de euros).

“Esta equipa representa um enclave separatista onde corrupção, contrabando e acordos económicos ocultos são comuns, o que afeta diretamente o orçamento e os interesses da República da Moldávia. A vaga na Liga dos Campeões vai beneficiar apenas o proprietário do clube e mais ninguém”, diz o jornalista moldavo Cristian Jardan, citado pela Folha.

O empresário Viktor Gushan, um dos fundadores do Sheriff, pertenceu à KGB. Gushan tem cidadania ucraniana e fortes laços com a Rússia e com o governo de Vladimir Putin.

“O FC Sheriff não tem nada a ver com política. É apenas um clube de futebol”, argumenta o dono do clube. No entanto, Gushan é acusado de fraude nas eleições parlamentares na Moldávia, tendo alegadamente oferecido 25 dólares a quem fosse votar. Devido à sua relação com o Governo, as suas empresas têm redução de impostos.

Tiraspol, cidade do Sheriff, é a capital da Trasnístria. O estado ocupa a faixa entre o rio Dniester e a fronteira com a Ucrânia. O governo moldavo reconhece a região como um território autónomo.

Após o desmembramento da União Soviética, conta a Tribuna Expresso, a Moldávia declarou a sua independência, que também era desejada pela Transnístria. Em 1992, deu-se a chamada Guerra da Transnístria e, desde então, o governo moldavo não tem exercido grande influência na região.

“O Sheriff é a instituição central do território”, não se “limitando a financiar o clube de futebol”, mas “controlando de maneira efetiva a economia e política da Transnístria”, explicou Sabine Von Löwis, membro do Centro para o Leste Europeu e Estudos Internacionais de Berlim.

No seu curto período de existência, o clube já soma 36 títulos domésticos, nomeadamente 19 campeonatos moldavos.

“É um conto de fadas e também uma oportunidade. Todos assistem aos jogos da Liga dos Campeões. Para o clube e para nós é um momento muito especial”, disse Adama Traoré, autor de um dos golos frente ao Shakthar.

Apesar da modéstia dos seus jogadores, o clube tem umas excelentes instalações. O seu estádio custou 169 milhões de euros e o centro de treinos tem 12 campos de futebol. É um complexo “de fazer inveja a qualquer equipa de qualquer parte do mundo”, conta Gustavo Dulanto, jogador peruano do Sheriff Tiraspol que já passou pelo Boavista.

O Sheriff tem um plantel multicultural com 30 jogadores de 18 nacionalidades diferentes. A caminhada na Champions tem sido de sonhos até agora, mas o clube prepara-se para enfrentar os mais complicados desafios até agora. Além do Shakhtar, o emblema da Transnístria tem ainda o Real Madrid e o Inter no seu grupo.

Daniel Costa, ZAP //

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