Um software de plágio descobriu que William Shakespeare “roubou” muitas palavras de um livro pouco conhecido, escrito no final de 1500 por George North.
Como todo o artista bem-sucedido, William Shakespeare era uma potência criativa que utilizava diversas referências nos seus trabalhos. É conhecido, por exemplo, que o escritor se inspirou nos escritos de Plutarco e de autores italianos contemporâneos para criar as tramas das suas peças.
Agora, há evidências de uma nova fonte da qual Shakespeare bebeu: “A Brief Discourse of Rebellion and Rebels”, um livro escrito no final de 1500 por George North, uma figura presente na corte da Rainha Elizabeth. A descoberta foi feita, surpreendentemente, através de um software de deteção de plágio.
O escritor Dennis McCarthy, pesquisador da história da língua inglesa, tomou conhecimento do livro de North através de um catálogo de leilões. O anúncio sugeria que seria interessante compará-lo com a obra de Shakespeare.
McCarthy e a professora de inglês June Schlueter decidiram digitalizar o texto do autor pouco conhecido, comparando-o com peças de Shakespeare através do software de código aberto WCopyfind, muito utilizado por professores para verificar se os alunos estão a plagiar artigos académicos.
Ao que tudo indica, Shakespeare leu “A Brief Discourse of Rebellion and Rebels” e achou a escrita tão brilhante que decidiu copiá-la, muitas vezes diretamente, nas suas peças. A dupla de pesquisadores descobriu que 11 obras de Shakespeare possuem inspirações tiradas do livro de North.
No seu livro, North incentiva aqueles que se veem como feios a se esforçarem para serem interiormente bonitos, a fim de desafiar a natureza. O escritor usa uma sucessão de palavras para fazer o seu argumento, incluindo “proporção”, “vidro”, “recurso”, “justo”, “deformado”, “mundo”, “sombra” e “natureza”.
No solilóquio de abertura da peça shakespeariana “Ricardo III”, o tirano corcunda usa as mesmas palavras, praticamente na mesma ordem, para chegar à conclusão oposta: que, uma vez que ele é exteriormente feio, agirá como o vilão que parece ser.
William Shakespeare não só usa as mesmas palavras, como também as cenas sobre temas semelhantes, utilizando os mesmos personagens históricos. Numa outra passagem do livro, North usa seis termos sobre cães para argumentar que, assim como os cães existem numa hierarquia natural, os humanos também.
“As pessoas não percebem quão raras essas palavras realmente são“, disse McCarthy.
// HypeScience / Boing Boing