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Setores pedem mais tempo para aplicar medidas, mas Governo faz ouvidos moucos

Patrícia de Melo Moreira / AFP

Vários setores da economia criticam o facto de o Governo dar pouco tempo para aplicar as medidas de combate à pandemia de covid-19. O diálogo com o Executivo existe, mas “é sempre mais parecido com um monólogo”.

O que normalmente acontece é que o Governo decide as novas medidas em Conselho de Ministros e anuncia-as no mesmo dia, sendo que entram em vigor nos dias seguintes. Porém, vários setores da economia pedem mais tempo para aplicar as medidas do Governo, pedindo, no mínimo, entre uma a duas semanas.

Desde farmácias, restauração, hotelaria, cultura e serviços, a opinião é unânime: os profissionais não têm tempo suficiente para fazer as alterações necessárias no terreno.

Apesar do apelo de vários setores da economia, o Governo, em declarações ao Expresso, recusa para já alterar o seu calendário.

O Ministério da Presidência explica que a entrada em vigor das medidas no dia imediatamente seguinte ao da publicação dos decretos permite “por um lado, facilitar as situações em que existe um alívio das regras e, por outro, implementar com a máxima rapidez possível as medidas de controlo da pandemia”.

Um dos exemplos mais gritantes é o da obrigatoriedade de apresentar certificado digital ou teste negativo à covid-19 para entrar em restaurantes aos fins de semana. A medida foi anunciada na quinta-feira e posta em prática logo no sábado.

No caso da comparticipação a 100% dos testes antigénio em algumas farmácias por todo o país, a portaria foi publicada a 30 de junho e vigora desde 1 de julho.

Desde cedo houve problemas, com farmácias aderentes a não conseguirem fazer a faturação nem disponibilizar o teste de forma gratuita devido a um problema informático do Ministério da Saúde.

“Era impossível de um dia para o outro termos os sistemas informáticos preparados. Só na quinta-feira [15 de julho] é que todas as farmácias estavam em condições de oferecer o serviço”, explica a presidente da Associação Nacional de Farmácias, Manuela Pacheco, ao Expresso.

Além disso, Manuel Pacheco alerta que “há muitas farmácias que não têm instalações com espaço suficiente para realizar testes”, sendo que já pediram para poder realizar os testes na rua, em frente aos estabelecimentos. No entanto, para já, não estão a fazê-lo, embora seja uma solução “totalmente segura”.

Desde a restauração à hotelaria, as queixas alastram-se a outros setores, que entendem que o tempo mínimo de pôr as medidas em ação deveria ser de uma semana.

“O diálogo com o Governo até existe mas é sempre mais parecido com um monólogo. Nós damos ideias, eles pedem propostas, mas depois a decisão é sempre irreversível”, diz Daniel Serra, presidente da Associação Nacional de Restaurantes.

Por sua vez, a cultura continua à espera da “sua quinta-feira”, daquela em que o Governo anuncie que já se podem realizar espetáculos de grandes dimensões e sem lugares marcados.

Daniel Costa, ZAP //

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