A morte de George Floyd, em maio do ano passado, mudou a postura de Hamilton no que respeita ao seu poder e influência. Agora, o sete vezes campeão do mundo usa todas as oportunidades para espalhar a mensagem da diversidade que quer ver na sua modalidade.
No último episódio da série Drive to Survive, o produto televisivo encomendado pela Fórmula 1 à Netflix tendo em vista a angariação de mais e novos adeptos para a modalidade, Lewis Hamilton, que ao longo dos restantes episódios quase não foi referido — apesar de ter, em 2020, assegurado o sétimo título mundial da carreira —, confessou que na última temporada a sua presença nas pistas teve um propósito maior que a competição propriamente dita.
A morte de George Floyd pela polícia, em maio do ano passado, teve um grande impacto no britânico, que se uniu à própria organização do campeonato mundial de Fórmula 1 para criar a We Race as One, uma campanha de sensibilização contra o racismo, mas, acima de tudo, pela diversidade, seja ela racial, de género ou de orientação sexual. Por pressão sua, o ajoelhar dos pilotos, à semelhança do que acontece nos Estados Unidos com os atletas de outras modalidades, passou a integrar os momentos protocolares que marcam os minutos antes de os semáforos se apagarem — apesar de muitos pilotos, a começar pelo colega de equipa — não o acompanharem.
Para além desta iniciativa, Hamilton enverga sempre uma t-shirt com mensagens alusivas às causas que defende, independentemente do país em que o Grande Prémio se realiza. Antes da corrida na Hungria — país cujo governo luta para implementar leis anti-LGBT —, partilhou mensagens a condenar precisamente estas políticas, o que lhe valeu vaias do público.
Esta semana, em entrevista à prestigiada revista do The Wall Street Jounal, Hamilton admitiu que, apesar do sucesso quase imediato que alcançou quando chegou à categoria rainha do automobilismo, não era feliz e o motivo diretamente relacionado com as causas que agora defende. “Sempre me senti diferente. Naquele momento, não tinha confiança em mim, por isso fiquei calado [perante comentários racistas]. Reprimimos tanto que não temos consciência da dor que sentimos.”
O britânico recordou ainda um episódio vivido durante o Grande Prémio de Espanha, em 2008, quando um grupo de adeptos, com a cara pintada de preto, se apresentou no circuito com cartazes onde se podia ler “Família de Hamilton“. “Lembro-me da dor que senti nesse dia, mas mantive-me em silêncio. Não tive ninguém do meu lado. Ninguém protestou. Vi pessoas que continuam na categoria [Fórmula 1] e que ficaram caladas”, lembra.
Um dos pontos em que mais insiste, no âmbito das campanhas de sensibilização, é que apenas 1% do grande contingente de trabalhadores responsável por levar o “circo” da Fórmula 1 aos quatro campos do globo não é de raça branca, o que indica que a modalidade tem uma grande lacuna no que respeita a diversidade. Como tal, o britânico não tem problema em admitir que muita da sua motivação para continuar a correr tem que ver, precisamente, com mudar o facto de o seu caso ser único.
Por exemplo, recentemente, disfarçou-se para receber um grupo de crianças numa visita às instalações da Mercedes, nomeadamente à unidade de engenharia. A ideia de que deve ser incutida aos jovens negros a mensagem de que também eles podem e têm lugar na Fórmula 1 está sempre presente nas ações de Hamilton que, entre outros pontos, também defende a inclusão de uma mulher ao volante dos monolugares mais rápidos do mundo já nos próximos anos — algo que o jornal norte-americano apelidou de “plano revolucionário“.
Boa campanha de marketing… mas, como em tudo, o que é demais é erro!…
O que Hamilton parece esquecer-se é que ele alcançou o que alcançou por MÉRITO, não por quotas ou outros favores.
Acho muito bem que lute por que certas minorias sejam respeitadas, mas ele teria uma papel mais relevante se lutasse para que essas minorias não se auto-excluíssem. Porque se ele acha que 99% dos trabalhadores da Formula 1 são brancos então, das duas uma: ou está implicitamente a considerar que as empresas estão a discriminar candidatos de outras etnias, ou então está implicitamente a achar que as pessoas de outras etnias não se interessam ou não demonstram talento para ocuparem os lugares disponiveis. Em qualquer dos casos, ele deveria tomar uma posição. Porque ficar pela rama, por lutas genéricas pela “diversidade” é inconsequente.