Os sérvios mostraram-se hoje indiferentes às cerimónias oficiais do centenário do atentado de Sarajevo, que desencadeou a Primeira Guerra Mundial, e celebraram o heroísmo de Gavrilo Princip, homicida do arquiduque Francisco Fernando.
Os dirigentes sérvios bósnios e da Sérvia homenagearam Gavrilo Princip em Visegrad, cidade na Bósnia oriental onde se situa a famosa ponte construída pelos otomanos sobre o rio Drina, descrita no romance “A ponte sobre o Drina” do jugoslavo Ivo Andric, prémio Nobel da Literatura.
“Não vamos falar hoje daqueles que se esforçam para envenenar a nossa história ou forçar-nos a esquecer”, declarou o primeiro-ministro sérvio, Aleksandar Vucic, perante centenas de pessoas presentes em Andricgard, uma cidade neomedieval que o cineasta sérvio Emir Kusturica, mestre de cerimónias para esta ocasião, fez edificar no coração de Visegrad e batizou com o nome de Ivo Andric.
“Os tiros de Gavrilo Princip há 100 anos não foram disparos contra a Europa, mas a favor da liberdade”, declarou Milorad Dodik, presidente da entidade sérvia da Bósnia.
Antes, Dodik e Vucic inauguraram um mural de mosaicos, em que estão representados em tamanho real os intervenientes no atentado de Sarajevo, com Gavrilo Princip à frente, e onde se pode ler a inscrição “As nossas almas vão vaguear e assombrar os vossos castelos”.
Desde que foram anunciadas, há mais de dois anos, as comemorações europeias em Sarajevo, cidade atualmente de maioria muçulmana, os sérvios recusaram participar nas celebrações, denunciando uma perspetiva revisionista da história, que considera Princip “um terrorista”.
Na época de antiga Jugoslávia comunista, Gavrilo Princip era unanimemente considerado um herói e um revolucionário, mas durante a guerra de 1992-95, na qual se defrontaram as três principais comunidades da Bósnia – muçulmana, sérvia e croata – modificou esta perceção.
Ao associar os sérvios aos agressores, os historiadores muçulmanos bósnios consideram Gavrilo Princip “um terrorista”, cujo ato cometido em nome do “nacionalismo sérvio” desencadeou uma tragédia mundial.
Na capital bósnia, o centenário será marcado por um concerto, à noite, da orquestra filarmónica de Viena, na altura do atentado de Sarajevo, capital do império austro-húngaro, que Gavrilo Princip atingiu ao assassinar Francisco Fernando e a mulher, Sofia.
Este será o ponto alto de uma série de manifestações culturais e desportivas financiadas pela União Europeia (EU), mas das quais os seus dirigentes estarão ausentes.
Há 100 anos, cinco semanas após o atentado, as grandes potências europeias entraram numa guerra que deixou dez milhões de mortos e 20 milhões de feridos entre os combatentes e milhões de civis mortos.
Cerimónias do 100.º aniversário do assassínio do arquiduque Francisco Fernando, um dos fatores que precipitou o início da Primeira Grande Guerra, decorreram também no castelo de Artstetten, na Áustria.
/Lusa