A comunicação é um dos principais problemas da comunidade surda, que diariamente sente dificuldades em fazer-se entender e para quem foi criado o Serviin, um novo serviço de intérprete que faz a ponte com a comunidade ouvinte.
Em Portugal estima-se que existam cerca de 120 mil pessoas com algum grau de perda auditiva, sendo que 30 mil são surdas falantes de língua gestual portuguesa.
A Associação Portuguesa de Surdos dedica-se à defesa dos direitos destas pessoas, lutando diariamente pela plena integração dos surdos na sociedade, já que as dificuldades são constantes.
“Gostava pessoalmente, enquanto surda, na escola do meu filho, de poder ter acesso através de vídeo-interpretação quando há reuniões”, exemplifica Patrícia Carmo, membro da direção da associação.
Patricia diz que há “muitas situações em que faz falta a vídeo-interpretação”, e lembra-se de várias que já aconteceram consigo, desde uma que se passou num parque de estacionamento com cancela e em que não conseguiu falar pelo intercomunicador, ou outra num hospital, em que, mesmo por escrito, teve dificuldades em marcar uma consulta.
Na maior parte das situações os surdos precisam de pedir ajuda a um familiar ou amigo, mas isso faz com que as pessoas percam a independência e a autonomia.
Patrícia Carmo admite que se sente discriminada enquanto surda e diz que muita coisa poderia ser feita, a começar pela sensibilização da sociedade ouvinte.
“Podiam tentar que em cada serviço houvesse pelo menos uma pessoa que soubesse língua gestual e se não for possível, haver aplicações ou o Serviin estar lá para que o surdo tenha acesso”, defende.
Como funciona
O Serviin é um serviço pensado para colmatar na comunidade surda a falha da comunicação e tentar suprimir as dificuldades permanentes em conseguir falar com empresas ou serviços públicos.
“Nós desenvolvemos um site, que é o Portal do Cidadão Surdo. Através deste site, o surdo consegue fazer uma chamada vídeo para uma intérprete e a partir deste canal, a intérprete faz uma chamada voz para a empresa ou instituição pública que o surdo quer contactar “, explica Nuno Cruz, diretor de marketing da empresa que criou o serviço.
Segundo o responsável, a pessoa surda tem duas hipóteses de recorrer ao serviço: através do portal ou fazendo uma chamada telefónica para o 12472 através de um telefone com videochamada.
“O único custo que o surdo tem é uma ligação internet ou então, no caso dos telemóveis, vai pagar um cêntimo por minuto sempre que ligar através do 12742, mas esse valor não é para o Serviin, é para o fornecedor de telecomunicações do surdo”, adianta Nuno Cruz.
O diretor explica que preferencialmente fazem a ponte com as empresas ou instituições que já fizeram contrato de adesão, mas se for preciso também ajudam a fazer a ligação com familiares ou amigos, universidades, câmaras municipais ou até mesmo comércio local, já para não falar no 112, PSP e GNR.
Há já contratos assinados com empresas de telecomunicações, de seguros, serviços ou transportadoras, mas o objetivo, sublinha Nuno Cruz, é conseguir estar nos serviços públicos para também eles terem esta ferramenta de comunicação com as pessoas surdas.
/Lusa