Nova descoberta num poço funerário, na “Gruta dos Pombos”, representa a mais antiga prova do uso de plantas como remédio em África. Ephedra remete à pré-história e seria usada banquetes e rituais funerários.
Um estudo publicado a 2 de novembro na Scientific Reports revelou evidências surpreendentes sobre o uso de plantas com fins medicinais por comunidades pré-históricas.
Na Grotte des Pigeons (Gruta dos Pombos, traduzindo para português), situada no nordeste de Marrocos, foram descobertos cones de sementes de Ephedra, uma planta conhecida pelas suas propriedades estimulantes e medicinais.
Estes vestígios, datados de há cerca de 15.000 anos, sugerem que a planta era utilizada por caçadores-recolectores ibero-maurisianos em contextos cerimoniais e possivelmente terapêuticos.
Os cones de Ephedra foram encontrados num poço funerário junto a restos humanos, ovelhas Barbary e aves como abetardas-comuns, relata o National Geographic, que aponta para a presença de um elaborado ritual funerário.
Ephedra é vasoconstritora e facilita a respiração
Segundo Jacob Morales, arqueobotânico da Universidade de Las Palmas da Gran Canária, esta descoberta reforça o papel crucial das plantas no estilo de vida paleolítico, “muito antes do aparecimento da agricultura ou de um estilo de vida sedentário”.
A presença de Ephedra, que contém efedrina, sugere que o seu uso pode ter sido associado a banquetes rituais, talvez para manter a vigília ou aliviar sintomas físicos. O composto químico facilita a respiração e atua como vasoconstritora, mas também pode ser perigosa quando consumida em excesso, provocando aumento da pressão arterial e ritmo cardíaco. Os povos antigos podem ter utilizado as propriedades medicinais da planta de forma estratégica, por exemplo, em práticas como cirurgias rudimentares.
Estudos apontam que os ibero-maurisianos tinham conhecimentos avançados sobre o corpo humano, evidenciados por práticas como extração de dentes e trepanações.
A Ephedra, com as suas propriedades vasoconstritoras, teria sido útil para minimizar perdas de sangue e reduzir infeções, potencialmente auxiliando em procedimentos médicos.
A descoberta também sugere que o consumo da planta poderia estar relacionado a rituais cerimoniais, no contexto funerário.
Mas a utilização de plantas com fins medicinais não é exclusiva dos ibero-maurisianos. Textos antigos da China e da Mesopotâmia, bem como descobertas arqueológicas em outros locais, mostram que a humanidade explora as propriedades das plantas há milénios. No entanto, a descoberta na Grotte des Pigeons destaca-se pela sua antiguidade e pelo facto de ser a primeira deste género no continente africano.