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Semana de 4 dias reduz horas de trabalho semanais. Quem provou, não quer voltar ao normal

Relatório das 41 empresas que adotaram o sistema reporta uma redução média de 13,7% da carga horária semanal. Ansiedade e fadiga baixaram. 85% só voltaria aos cinco dias com um aumento salarial superior a 20%.

As empresas que adotaram a semana de quatro dias de trabalho reportaram uma redução média de 13,7% das horas semanais laborais, para 34 horas, segundo os resultados do projeto-piloto apresentado esta terça-feira pelos coordenadores do estudo.

“Em média, a semana de quatro dias envolveu a redução das horas de trabalho semanais em 13,7% (de 39,3 para 34 horas, reportado pelas empresas)”, pode ler-se no relatório apresentado por Pedro Gomes, professor de economia na Universidade de Londres, e Rita Fontinha, professora de gestão estratégica de recursos humanos na Universidade de Reading.

Já os trabalhadores que participaram na experiência reportaram uma redução menor do número de horas semanais efetivamente trabalhadas em 11,3%, de 41,1 horas para 36,5 horas, indica o estudo.

Como está a funcionar a semana de quatro dias?

De acordo com o documento, 41 empresas estão a experimentar a semana de quatro dias em Portugal, abrangendo mais de mil trabalhadores, das quais 21 empresas começaram o teste em junho de 2023, com um total de 332 trabalhadores.

Na maioria das empresas (58,5%), os trabalhadores têm um dia livre por semana, tendo 41,5% das empresas optado por uma quinzena de nove dias, alternando uma semana de quatro dias com uma semana de cinco dias.

Em 20% das empresas, o dia livre é coordenado à sexta-feira, ou seja, “apenas em oito empresas a sexta-feira foi o novo sábado” e as restantes optaram por diferentes formatos, disse Pedro Gomes.

Mais de 70% das empresas adotaram mudanças organizacionais, como a redução do número e duração de reuniões, a criação de blocos de trabalho, ou a adoção de novo ‘software’, referem os coordenadores do estudo que aponta que 95% das empresas avaliam positivamente o teste.

Efeitos positivos na saúde mental e na família

A semana de quatro dias teve também impacto na saúde mental dos trabalhadores, com o índice de ansiedade a diminuir em 21%, o de fadiga em 23%, o de insónia ou problemas de sono em 19%, o de estados depressivos em 21%, o de tensão em 21% e o de solidão em 14%.

Os níveis de exaustão pelo trabalho reduziram em 19% e a percentagem de trabalhadores que sente ser difícil ou muito difícil a conciliação entre trabalho e família desceu de 46% para 8%.

A maioria (65%) dos trabalhadores passou mais tempo com a família após o início da redução horária.

O relatório indica ainda que 85% dos trabalhadores “apenas aceitaria mudar para uma empresa com um funcionamento a cinco dias, mediante um aumento salarial superior a 20%”.

Produtividade é calcanhar de Aquiles

Na apresentação do relatório, Pedro Gomes disse que as maiores dificuldades manifestadas pelas empresas na implementação do projeto foram a definição de métricas de produtividade, a gestão da semana de quatro dias durante os períodos de férias e a dificuldade em alterar a cultura interna para evitar o desperdício de tempo.

Para Pedro Gomes, “a semana de quatro dias, por muito radical que pareça, é uma prática de gestão legítima e pode solucionar problemas reais das empresas“.

A ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, que encerrou a cerimónia de apresentação, agradeceu às 41 empresas e aos trabalhadores que se “aventuraram no desconhecido” ao aderirem à iniciativa e considerou que este é um projeto “vencedor” que já está a ser replicado na Bélgica.

O secretário de Estado do Trabalho, Miguel Fontes, defendeu que a semana de quatro dias de trabalho é “um dos projetos mais inovadores em Portugal”.

O Laboratório Português de Ambientes de Trabalho Saudáveis (LABPATS) também recomenda a concretização da semana de quatro dias de trabalho, sem perda de remuneração.

“Esta semana de quatro dias só funciona com algumas condições: que a pessoa não fique a receber menos, e que a pessoa não tenha que fazer o trabalho de todos os dias naqueles quatro dias, senão acaba por ficar completamente sobrecarregado”, explicou Tânia Gaspar, coordenadora do trabalho desenvolvido pelo LABPATS.

ZAP // Lusa

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