Lavar as mãos depois de usar a casa de banho é altamente indicado para evitar a proliferação de doenças, mas os secadores de mãos a ar usados nas casas de banho públicas não são muito eficientes nesta tarefa.
Esse tipo de equipamento suga as bactérias e os esporos que circulam no ar da casa de banho, que são para ali atirados pelos minúsculos jatos de água da descarga, e põe-nas diretamente nas suas mãos limpinhas. A hipótese acaba de ser confirmada num estudo publicado na revista Applied and Environmental Microbiology em abril.
Os autores do estudo, liderados por cientistas da Universidade de Connecticut, nos EUA, descobriram que instalar filtros HEPA nos secadores pode reduzir em quatro vezes o problema, mas locais como hospitais, clínicas médicas e laboratórios, que lidam com doenças infecciosas, devem oferecer a boa e velha toalha de papel.
Desde que o estudo foi realizado nas 36 casas de banho dos laboratórios básicos da faculdade de medicina da Universidade de Connecticut, a instituição substituiu os secadores por toalhas de papel.
Os resultados do estudo confirmam outros estudos da mesma linha, que mostram que os secadores lançam e espalham bactérias das mãos para as superfícies da casa de banho e que também “lavam” as mãos com germes que já estavam no espaço.
Os cientistas especulam que uma das razões para que as máquinas dispersem tantas bactérias é que a enorme quantidade de ar que passa por elas.
No estudo, os invetsigadores colocaram placas com ágar – comida de bactéria – em algumas casas de banho da universidade. Alguns foram deixados no ambiente por apenas dois minutos enquanto os secadores de mãos estavam desligados, e outros foram posicionados a 30 centímetros da saída de ar do secador em funcionamento.
Se as bactérias caíssem na placa, começavam a multiplicar-se e formar colónias coloridas que podem ser contadas.
Nas casas de banho sem movimentação de ar, cada placa recebeu entre zero e uma colónia de bactérias. Quando as placas ficavam abertas por 18 horas, essa média aumentava para seis bactérias por placa.
Mas quando estavam na linha direta dos secadores de mão por apenas 30 segundos, as placas recolheram entre 18 a 60 colónias, sendo que algumas poucas placas registaram 254 colónias.
Os investigadores concluíram que esses germes lançados eram originalmente da casa de banho, e não do bico do secador. Isso foi deduzido porque pequenos ventiladores esterilizados foram colocados em diferentes partes da casa de banho para imitar o funcionamento do secador, e os resultados foram semelhantes.
A boa notícia é que instalar filtros HEPA nos secadores reduziu a contagem de germes que caíram nas placas em quatro vezes.
Outra novidade deste estudo é que os secadores de ar quente, que teoricamente matam as bactérias com o calor, não conseguiram matar os esporos dessas bactérias. Enquanto a maioria das células bacterianas é morta com temperatura à volts de 70°C, os endósporos podem sobreviver até em água fervente.
A esporulação ocorre quando essas bactérias estão em ambientes que ameaçam a sobrevivência, sem nutrientes suficientes. O esporo é uma camada que protege a bactéria e lhe confere resistência ao ataque de agentes físicos e químicos da esterilização e desinfeção. As bactérias podem permanecer vivas na forma de esporos durante anos, e assim que o ambiente fica favorável, os esporos voltam a reproduzir-se e multiplicar-se.
A pesquisa concluiu que os secadores com ar quente espalhavam esporos pelas superfícies das casas de banho.
Os laboratórios próximos às casas de banho da universidade estudada trabalham com a bactéria inofensiva Bacillus subtilis, cepa PS533. Apesar de esta bactéria ser bastante comum, esta cepa tem uma resistência distintiva ao antibiótico canamicina, medicamento que caiu em desuso por ter ação limitada.
Com esta distinção, os cientistas podem identificá-las com facilidade entre as amostras de bactérias da casa de banho. Basta aplicar o antibiótico nas amostras, e as sobreviventes são as B. subtilis PD533. Esta bactéria foi encontrada em todas casas de banho testadas.
Outras bactérias também foram analisadas, e a Staphylococcus aureus também foram encontradas. Essas bactérias são encontradas na pele de pessoas saudáveis, mas podem provocar doenças que vão desde pequenas infeções até infeções graves como pneumonia e meningite.
Os autores também destacam que a bactéria Clostridium difficile, que causa diarreia, também forma esporos e é facilmente lançada no ar da casa de banho pelos jatos da descarga.
“Isso sugere uma nova forma de transmissão da C. difficile que não pode ser interrompida por métodos tradicionais como lavar as mãos ou desinfetar superfícies. O papel dessa forma de transmissão de C. difficile vale a pena ser estudado no futuro” concluem os autores.
// HypeScience / Ars Technica