Seca: Municípios reduzem rega de jardins e apostam em campanhas de sensibilização

Organização indica que 17% da população europeia está em grande risco de escassez de água até 2050.

Municípios de todo o país têm adotado medidas para minimizar a situação geral de seca, que passam pela redução de regas de jardins, o uso de água reciclada nas lavagens, a redução de caudais e mais campanhas de sensibilização. Desde outubro do ano passado choveu praticamente metade do que seria um ano hidrológico normal, segundo adiantou à Lusa o Instituto Português do Mar e da Atmosfera (IPMA), em 9 de agosto.

Pelo menos cerca de oito mil pessoas de 50 localidades transmontanas estão a ser abastecidas este verão com a ajuda de autotanques devido à falta de água nos sistemas de abastecimento, nomeadamente nos municípios de Carrazeda de Ansiães, Bragança, Macedo de Cavaleiros, Alfândega da Fé, Mogadouro e Vimioso, no distrito de Bragança, e Alijó, no distrito de Vila Real.

Em Beja, também está a ser assegurado por autotanques o abastecimento público de água em localidades de seis concelhos servidos pelo sistema da Águas Públicas do Alentejo (AgdA), em povoações de Aljustrel, Mértola e Moura (no distrito de Beja), Alcácer do Sal e Santiago do Cacém (Setúbal) e Montemor-o-Novo (Évora).

Entre as medidas já adotadas pelas câmaras para redução do consumo de água das redes públicas de abastecimento está o controlo da rega e o uso de água não potável de cursos naturais nos espaços públicos e jardins e a alteração da flora para espécies autóctones mais resistentes ao clima, como nos municípios de Amarante, Penafiel e Paredes, no distrito do Porto.

A desativação e a reprogramação dos sistemas de rega automática ou a criação de furos artesianos em parques urbanos para poupar água da rede são algumas das medidas implementadas por outras autarquias do Grande Porto, como Gondomar, Matosinhos, Gaia e Santo Tirso, que também desligaram os chafarizes e reduziram a água disponível nos bebedouros públicos e fontanários.

Além da redução das regas, a Câmara de Reguengos de Monsaraz, Évora, anunciou a instalação de equipamentos de elevada eficiência hídrica nos edifícios municipais, assim como campanhas junto da população com dicas para reduzir o consumo na própria fatura da água.

Já em Beja, a Câmara de Almodôvar informou a população sobre quais os poços e furos públicos que não são utilizados para consumo humano, mas que podem servir para abeberamento animal ou rega.

No distrito de Leiria, este concelho e o município da Nazaré optaram por investir em novos depósitos para aumentar a capacidade de armazenamento de água, enquanto a Câmara de Porto de Mós está a reforçar a fiscalização para evitar o uso fraudulento da água, especialmente as ligações diretas de contadores e utilização indevida das bocas-de-incêndio e fontanários públicos, especialmente em zonas onde foi detetado “um consumo superior ao habitual“.

No Algarve, várias autarquias decidiram encerrar piscinas municipais e fontes ornamentais ou instalar redutores de caudais e também a Região de Turismo do Algarve propôs aos empreendimentos turísticos a redução da água em fontes ornamentais, na rega dos espaços verdes e na renovação da água das piscinas como medidas de contingência para responder à situação de seca.

A Câmara de Loulé, por exemplo, manterá encerradas até setembro as piscinas interiores na sede do concelho e em Quarteira, além de encerrar as piscinas exteriores de Loulé e de Salir às segundas, terças e quartas-feiras, a partir da próxima segunda-feira.

Em Castro Marim, o depósito de água da aldeia de Corte do Gago é abastecido diariamente por um camião cisterna desde que secaram os furos que abasteciam a localidade. Esta situação já levou o presidente da Câmara, Francisco Amaral, a criticar os decisores políticos pela “demora” na construção da central de dessalinização de água, e, tal como o autarca vizinho de Alcoutim, Osvaldo Gonçalves, a defender a construção de uma barragem na ribeira da Foupana, afluente do rio Guadiana.

Aposta em campanhas de sensibilização sobre o mau uso de água

As 19 câmaras da Comunidade Intermunicipal (CIM) do Douro decidiram também fazer o levantamento das nascentes, furos e captações.

Já em Abrantes, Santarém, a Câmara vai avançar com um projeto global de captação de água de origens alternativas e implementar contadores inteligentes que permitem a leitura automática do consumo de água e identificar fugas.

Em Lisboa, foi aprovada uma recomendação para a gestão sustentável da água na cidade e os espaços verdes começaram a ser regados com água reutilizada, enquanto o Sabugal (Guarda) e Torres Vedras (Lisboa) reviram os respetivos Planos de Contingência para Situações de Seca.

Campanhas de sensibilização sobre o mau uso de água e meios de combate ao desperdício têm também sido desenvolvidas de norte a sul do país, como em Tondela, Alcácer do Sal e Guarda, onde a Câmara apelou aos residentes e emigrantes que passam férias no concelho para que tenham “consumos regrados“.

Em Alijó, um concelho do distrito de Vila Real também afetado pela seca extrema, quatro jovens trocaram as férias pelo voluntariado e neste verão estão a sensibilizar a população das cerca de 50 aldeias do município para a poupança de água.

A empresa Águas Públicas da Serra da Estrela (APdSE), com sede em Seia, apelou aos consumidores para que reutilizem água sempre que seja possível, tomem duches rápidos, lavem os dentes ou as mãos com a torneira fechada, façam meia descarga do autoclismo, usem as máquinas de lavar roupa e louça com a carga máxima, consertem fugas na canalização, não desperdicem água durante a rega e não lavem os carros com a mangueira (optando pela utilização de um balde).

Devido à seca, o Governo decretou uma cota mínima a partir da qual as barragem não podem turbinar, pelo que a seca afeta também a produção de eletricidade. A descida do nível da água foi aproveitada para limpeza das barragens e na albufeira do Alto Rabagão, em Montalegre, foi possível retirar um hidroavião acidentado submerso desde 2007.

A situação de seca não abrange apenas Portugal, mas é transversal à Europa e uma análise da organização “World Wide Fund for Nature” (WWF), divulgada na quarta-feira, indica que cerca de 17% da população europeia está em grande risco de escassez de água até 2050, o que poderá afetar 13% do PIB da Europa.

// Lusa

Deixe o seu comentário

Your email address will not be published.