O ex-Presidente francês admite recorrer ao Tribunal Europeu dos Direitos Humanos contra a sua condenação a três anos de detenção, um em prisão efetiva, por corrupção e tráfico de influência.
Numa entrevista ao jornal Le Figaro, publicada esta terça-feira, Nicolas Sarkozy criticou a “profunda e chocante injustiça do processo iniciado” contra si na justiça francesa há dez anos, mantendo “a determinação para que triunfe o Direito e a Justiça, como deve ser num Estado de Direito”.
“Não posso aceitar de facto ter sido condenado pelo que não fiz”, afirmou o ex-Presidente, denunciando uma sentença “cheia de incoerências” e que “não menciona provas, mas sim um emaranhado de pistas”.
O antigo chefe de Estado, retirado da política desde 2016, prometeu “um combate duradouro” contra a sentença, de que já recorreu, e que “talvez tenha que terminar no Tribunal Europeu dos Direitos Humanos”. “Seria doloroso para mim ver o meu próprio país condenado, mas estou preparado porque esse seria o preço da democracia”, acrescentou.
O político, de 66 anos, que foi Presidente de França de 2007 a 2012, foi condenado por ter tentado ilegalmente obter informações de um magistrado, em 2014, sobre uma ação judicial em que estava envolvido.
O tribunal disse que os factos são “particularmente graves”, por serem cometidos por um ex-Presidente que usou o seu estatuto para fins pessoais. Além disso, como ex-advogado, Sarkozy estava “perfeitamente informado” sobre a prática deste tipo de ação ilegal, disse o tribunal.
Os outros dois réus no caso, o seu advogado e amigo de longa data Thierry Herzog e o agora reformado magistrado Gilbert Azibert, também foram considerados culpados e receberam a mesma sentença.
Sarkozy, que esteve presente na audiência, não foi detido e enviado para uma cela, depois de o tribunal ter autorizado que permaneça em casa com pulseira eletrónica.
Pela primeira vez, um chefe de Estado francês é condenado a pena de prisão efetiva, mesmo que não ingresse de imediato num estabelecimento prisional. O político negou veementemente todas as acusações durante o julgamento de 10 dias, ocorrido no final do ano passado.
O julgamento concentrou-se em conversas telefónicas ocorridas em fevereiro de 2014. Na altura, foi aberta uma investigação sobre o financiamento da campanha presidencial de 2007 de Sarkozy. Durante a investigação, foi descoberto acidentalmente que o ex-Presidente e o amigo estavam a comunicar-se por meio de telemóveis secretos registados sob um nome falso (Paul Bismuth).
Os procuradores solicitaram dois anos de prisão efetiva e um ano de pena suspensa para os três réus, pelo que definiram como um “pacto de corrupção”.
Sarkozy enfrentará outro julgamento no final deste mês, juntamente com outras 13 pessoas sob a acusação de financiamento ilegal da sua campanha presidencial de 2012.
// Lusa