Aves “jardineiras” são prova de sucesso no restauro da floresta Laurissilva. Plantas nativas propagam-se, conservacionistas aprendem.
É a a maior ação de restauro ecológico alguma vez realizada nos Açores. Os técnicos removeram plantas invasoras, estabilizaram taludes e plantaram espécies nativas.
Tudo para restaurar a floresta Laurissilva desde os 300m até aos 900m de altitude. Assim, os conservacionistas criaram as condições para que as sementes agora levadas pelas aves possam germinar.
E os resultados mostram que é possível restabelecer os ritmos naturais da floresta – isto no âmbito do Dia Mundial da Floresta, que se assinalou nesta sexta-feira.
A floresta Laurissilva tem sido alvo de técnicos da Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves (SPEA) que destaca a história das aves dos Açores que estão a ajudar os conservacionistas a preservar a floresta.
Têm sido anos de trabalho, lê-se em comunicado enviado ao ZAP. E agora as plantas nativas da Laurissilva estão a ser propagadas – e os conservacionistas estão a aprender com isso.
Destaca-se a regeneração do sanguinho: “Encontrámos muitas plantas desta espécie a crescer em locais em que não há indivíduos adultos a produzir sementes”, diz Tarso Costa, técnico de conservação na SPEA.
”Isso mostra um ciclo positivo: o sanguinho que plantamos noutros locais está realmente a servir de alimento às aves como o priolo, como era o nosso objetivo; e as aves por sua vez estão a dispersar as sementes, trazendo sanguinho para novas áreas”, descreve Tarso.
Quando os conservacionistas tentam proteger um ecossistema da ameaça das plantas invasoras, o mais difícil não é remover essas plantas, mas sim impedi-las de voltar. Isto porque as plantas invasoras são, por definição, plantas que se propagam com muita facilidade, ocupando rapidamente o terreno disponível.
Se o sanguinho conseguiu — com a ajuda das aves — propagar-se para novos locais, quer dizer que esta espécie nativa tem muito potencial para preencher os espaços que ficam disponíveis quando se removem plantas invasoras, ocupando-as e permitindo que o ecossistema nativo da Laurissilva se restabeleça sem que haja nova invasão.
Quando aves como o priolo se alimentam das bagas vermelhas do sanguinho, e depois voam para outro local, podem acabar por defecar as sementes longe da planta “mãe”. Mas essas sementes só irão germinar se tiverem espaço para crescer. É neste ponto que se torna evidente o impacto deste restauro ecológico.
“Ao restaurar esse ecossistema, nós criámos uma floresta saudável. É um orgulho ver que as aves estão naturalmente a dispersar sementes — e ensinaram-nos que o sanguinho pode ajudar-nos no maior desafio do restauro ecológico nos Açores, que é manter as áreas livres de plantas invasoras”, completa Tarso Costa.