O primeiro-ministro socialista não foi capaz de desbloquear o impasse nas negociações para a sua investidura como chefe do Governo numa reunião que teve hoje com o líder do Unidas Podemos (extrema-esquerda).
No final do encontro, o PSOE (Partido Socialista Espanhol) e o Unidas Podemos responsabilizaram-se mutuamente pela falta de avanços para garantir a investidura de Pedro Sánchez como primeiro-ministro numa sessão parlamentar que se vai realizar a partir de 22 de julho.
A falta de progressos para formar Governo, três meses depois das eleições de 28 de abril, faz aumentar as possibilidades de que seja marcada uma nova consulta eleitoral.
Não quero “pensar que Pablo Iglesias queira impedir pela segunda vez que Espanha tenha um Governo de esquerdas”, disse no final da reunião a líder da bancada socialista no parlamento, Adriana Lastra, numa alusão à falta de apoio do Unidas Podemos a um executivo liderado por Pedro Sánchez que poderia ter sido investido em 2016.
A dirigente socialista sublinhou que “não é certo” que Sánchez tenha dito a Iglesias que o PSOE tinha decidido avançar para novas eleições no caso do fracasso das negociações. Isto porque fontes do Unidas Podemos tinham avançado que o chefe do Governo tinha dito que preferia uma nova consulta eleitoral no caso de não ter os apoios suficientes.
No final da reunião, Iglesias mostrou-se convencido de que Sánchez “mais cedo ou mais tarde retificará” a sua posição e negociará um governo de coligação. O líder da extrema-esquerda espanhola disse esperar convencer ainda o PSOE a mudar de posição: “Nós temos flexibilizado a nossa posição”, afirmou.
“Temos a mão estendida e vamos continuar a tentar encontrar uma solução”, assegurou por sua vez Adriana Lastra, ao mesmo tempo que acusava o Unidas Podemos de dizer várias “falsidades” sobre a posição dos socialistas.
A chefe da bancada parlamentar do PSOE lamentou, entre outras coisas, que Iglesias, depois de uma reunião havida anteriormente com Sánchez, tenha dito que a primeira opção dos socialistas era o Cidadãos (direita-liberal) e o PP (Partido Popular, direita).
Os votos do Unidas Podemos são imprescindíveis à recondução de Pedro Sánchez como chefe do Governo, depois de todos os partidos à direita do PSOE já terem confirmado que irão votar contra a sua investidura.
A formação de extrema-esquerda exige a entrada de dirigentes seus, como ministros, no futuro Governo espanhol, possibilidade que os socialistas recusam terminantemente, preferindo apenas o seu apoio parlamentar e avançando apenas com a eventual concessão de lugares intermédios de poder (secretarias de Estado e direções-gerais).
A soma do PSOE (123) e do Unidas Podemos (42) fica onze votos aquém da maioria absoluta (176) necessária para que Sánchez seja investido à primeira volta no parlamento.
Mesmo com o apoio do Unidas Podemos, Sánchez terá de negociar o apoio de outros partidos ou, na pior das hipóteses, a sua abstenção numa segunda volta, quando apenas precisar da maioria dos votos expressos.
Nas legislativas realizadas em 28 de abril último, os socialistas foram o partido mais votado, com quase 29% dos votos, mas outros quatro partidos tiveram mais de 10%, acentuando a grande fragmentação política do país.
O PSOE tem 123 deputados eleitos (28,68% dos votos), o PP 66 (16,70%), o Cidadãos 57 (15,86%), a coligação Unidas Podemos 42 (14,31%), o Vox (extrema-direita) 24 (10,26%), tendo os restantes sido eleitos em listas de formações regionais, o que inclui partidos nacionalistas e independentistas.
// Lusa