Através da análise de dados recolhidos pelo instrumento VIRTIS (Visible, Infrared and Thermal Imaging Spectrometer) da missão Rosetta da ESA, entre agosto de 2014 e maio de 2015, os cientistas detetaram sais de amónio na superfície do Cometa 67P/Churyumov-Gerasimenko.
O novo estudo, liderado por Olivier Poch do Instituto de Planetologia e Astrofísica de Grenoble, França, e publicado na revista científico Science, acrescenta às medições complementares obtidas na atmosfera do cometa, ou cabeleira, usando outro instrumento, o ROSINA (Rosetta Orbiter Spectrometer for Ion and Neutral Analysis) da Rosetta e publicadas na Nature Astronomy no início deste ano.
À medida que o VIRTIS mapeava o cometa durante a primeira metade da missão da Rosetta, os dados revelaram como a sua superfície é tão escura quanto carvão e ligeiramente avermelhada por uma mistura de compostos à base de carbono e minerais opacos. O instrumento também detetou manchas locais de água gelada e dióxido de carbono gelado, juntamente com uma característica de absorção intrigante, mas quase omnipresente, que ronda os 3,2 µm (no infravermelho). A natureza da substância que podia provocar esta característica, no entanto, permaneceu incerta até agora.
Para resolver o enigma, uma equipa de cientistas tem criado superfícies cometárias “artificiais” em laboratório, testando as suas propriedades e comparando-as com as observações VIRTIS. Com este objetivo, os cientistas produziram finas partículas de água gelado contendo grãos de poeira escura e uma variedade de compostos.
Em seguida, expuseram estas partículas a condições semelhantes às dos cometas – vácuo e baixa temperatura. Após várias horas, todo o gelo havia sublimado, deixando uma superfície feita de poeira porosa, análoga a uma superfície cometária.
O resultado de tais experiências indica que a misteriosa característica de absorção observada pelo VIRTIS no Cometa 67P é predominantemente devida a sais de amónio (NH4+), misturados com poeira escura e detetados em todos os tipos de terrenos do cometa.
A presença destes sais pode aumentar consideravelmente a quantidade de azoto que os cientistas esperavam encontrar anteriormente neste cometa e, possivelmente, noutros cometas também. Os resultados estão em concordância com a deteção recente, pelo instrumento ROSINA na Rosetta, de gases produzidos pela sublimação de sais de amónio em grãos de poeira ejetados do cometa.
Uma característica de absorção parecida também foi observada em vários asteroides, tanto nos da cintura principal como na família de Troianos de Júpiter, além de na lua de Júpiter, Himalia, sugerindo que estes corpos também contêm sais de amónio.
A presença destes sais pode sugerir uma ligação na composição química entre asteroides, cometas e possivelmente a nebulosa protossolar, fornecendo um cenário tentador para a entrega do azoto – um elemento-chave para a química da vida como a conhecemos na Terra – aos planetas do Sistema Solar interior.
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