Do “Maníaco de Skopin” a um serial killer canibal: são vários os criminosos que receberam penas mais leves do que o ex-jornalista russo Ivan Safronov.
Um tribunal russo condenou esta segunda-feira um ex-jornalista, Ivan Safronov, especialista em questões militares, a 22 anos de prisão por “alta traição”, depois de o manter detido há já dois anos.
Preso desde 2020, Safronov, de 32 anos, terá de cumprir a sua pena numa “colónia penal com um regime severo”, de acordo com a decisão do Tribunal da Cidade de Moscovo.
Reconhecido especialista em questões de defesa, Ivan Safronov, compareceu algemado e ouviu o veredicto esboçando um sorriso no compartimento de vidro reservado aos arguidos no tribunal onde foi julgado, segundo o jornalista da France-Presse que acompanhou o julgamento.
Os seus apoiantes na sala de audiências entoaram “Vania (diminutivo de Ivan), nós amamos-te”, enquanto outras pessoas desataram a chorar.
Os advogados do ex-jornalista anunciaram de imediato a sua intenção de recorrer da sentença, que inclui além da pena de prisão o pagamento de uma multa de 500.000 rublos (8.300 euros).
Ivan Safronov é acusado de ter transmitido a um analista político russo-alemão, também detido na Rússia por “alta traição”, informações sobre operações militares russas na Síria e aos elementos dos serviços secretos checos sobre as entregas de armas de Moscovo a África.
O caso foi denunciado pelos seus antigos colegas dos jornais russos Vedomosti e Kommersant, de onde foi despedido em 2019 e 2020, respetivamente, como vingança pelos seus artigos sobre incidentes embaraçosos nas forças armadas russas.
Homicídio, canibalismo e fraude milionária
O advogado e defensor de direitos humanos Pavel Chikov caracteriza a sentença como “horrível”. Os arguidos em casos de peculato recebem sentenças mais curtas, mesmo que a investigação reivindique danos ao Estado de até um mil milhão de dólares, escreve o portal russo The Insider.
A pena máxima, de acordo com o artigo 275 do Código Penal da Rússia, é fixada em 20 anos. No entanto, Safronov foi julgado por duas instâncias do suposto crime.
Até os condenados por homicídio ou violência sexual recebem normalmente penas de prisão mais curtas do que os chamados “inimigos do Estado”.
A pena de um assassino em série ou de um infanticida é inferior à que recaiu sobre Safronov, por exemplo. Normalmente, um homicídio é punível com uma pena de prisão de 10 a 17 anos. As penas de prisão para os assassinos do político da oposição Boris Nemtsov variaram entre 11 e 20 anos.
Já o artigo sobre violação estipula penas de prisão de 8 a 20 anos. Uma agressão sexual que envolva violência ou ameaças de violência “custa” de 3 a 6 anos de prisão, descreve o The Insider.
Em 2005, Viktor Mokhov, o infame “Maníaco de Skopin”, foi condenado a 17 anos de prisão, com redução adicional de dois meses.
Cinco anos antes, Mokhov tinha sequestrado duas jovens de 14 e 17 anos em Skopin, perto de Moscovo. Mokhov manteve-as na cave durante quatro anos e violou-as repetidamente, engravidando a mais velha, Elena, três vezes.
Outro caso mediático que mereceu uma pena mais curta foi o de Lyudmila e Alexander Spesivtsev, mãe e filho acusados de infanticídio e canibalismo, condenados a uma pena de prisão de 10 anos.
A primeira vítima de Alexander foi a sua namorada Evgenia Guselnikova. Spesivtsev trancou-a num quarto e espancou-a regularmente durante um mês. Ela morreu de sépsis, com o corpo coberto de múltiplos abcessos.
De abril a agosto de 1996, Spesivtsev assassinou mais 15 vítimas no seu apartamento, já depois de ter sido libertado de uma instituição psiquiátrica.
As suas últimas três vítimas foram atraídas para o apartamento pela sua mãe, Lyudmila. Alexander matou Nastya, de 13 anos, e manteve as suas duas amigas acorrentadas a um radiador durante cerca de um mês: violou-as, torturou-as e fez-las cortar e comer pedaços do cadáver da sua amiga morta. Depois disso, matou Zhenya, de 13 anos, e fez a última sobrevivente, Olya, comer a sopa que ele fez com a amiga dela.
Daniel Costa, ZAP // Lusa